A persistência e o trabalho de equipa estiveram presentes em toda a frota que participou na 46.ª edição da Rolex Middle Sea Race. Dos 117 barcos que alinharam à partida, um impressionante total de 110 completou a prova — um verdadeiro testemunho da tenacidade e resistência humana perante a complexa geografia e as exigentes condições meteorológicas do percurso.
Esta competição épica e os seus organizadores, o Royal Malta Yacht Club, contam com a parceria da Rolex desde 2002. O apoio de longa data da marca suíça à vela inclui três lendárias regatas de 600 milhas náuticas: a Rolex Fastnet Race, que celebrou o seu centenário em julho; e a Rolex Sydney Hobart Yacht Race, que assinalará o seu 80.º aniversário em dezembro, são as outras duas.
Rolex Middle Sea Race 2025
Vitória Geral: Balthasar
Chegar à linha de partida desta edição e mostrar-se tão competitiva não era algo garantido para o Maxi 72 Balthasar, comandado pelo velejador de volta ao mundo Louis Balcaen. Apenas seis semanas antes, o barco fora forçado a abandonar a Maxi Yacht Rolex Cup devido a um incidente. Recuperar desse contratempo e vencer a Rolex Middle Sea Race 2025 exigiu uma preparação adicional significativa para o derradeiro evento da época.
Para o núcleo da tripulação, o sucesso nesta exigente prova de 606 milhas náuticas representou o ponto mais alto da sua jornada conjunta até ao momento. Conquistar um dos troféus mais cobiçados da vela oceânica foi um momento de enorme orgulho para Louis Balcaen “Vencer a Rolex Middle Sea Race é um dos pontos altos da minha carreira na vela. É o tipo de resultado com que se sonha, mas que sabemos o quão difícil é alcançar — alinhar o barco, a tripulação, o tempo, todas as decisões… Tudo tem de estar perfeito. Quero dedicar esta vitória à equipa. Navegamos juntos há dez anos, com altos e baixos, e isso torna este resultado ainda mais especial. Não deixámos nada por fazer, mantivemo-nos calmos e focados nos momentos difíceis e, acima de tudo, desfrutámos de cada milha.”
Taticamente, a tripulação foi recompensada por decisões corajosas e calculadas. Duas das suas maiores apostas revelaram-se acertadas: primeiro, ao navegarem a norte da linha direta logo após a partida, conseguiram uma vantagem decisiva sobre os adversários que permaneceram a sul, presos em vento fraco. Mais tarde, após contornar a ilha de Favignana, no noroeste da Sicília, a decisão de rumar a leste e navegar junto à costa tunisina também deu frutos.
“A nossa consistência foi a chave”, explicou o tático de bordo, Bouwe Bekking. “A tripulação está junta há muito tempo e muitos de nós já participámos em voltas ao mundo, por isso conhecemos bem o ritmo uns dos outros. Tomamos decisões cedo, adaptamo-nos rapidamente e confiamos plenamente uns nos outros.”
Line Honours: Black Jack 100
Na corrida pela vitória em tempo real, a tripulação do Black Jack 100 estava determinada a melhorar o segundo lugar obtido no ano passado. Há doze meses, perderam para o rival Scallywag 100 por apenas 18 minutos. A desforra chegaria em julho, na Rolex Fastnet Race, onde venceram o mesmo adversário. Ainda assim, havia “negócios por concluir” na Rolex Middle Sea Race, e a equipa teve de lidar com a pressão acrescida de ser favorita à vitória entre os monocascos.
O percurso complexo da prova — uma circunavegação da Sicília em sentido contrário aos ponteiros do relógio, com múltiplas mudanças de rumo — exige total concentração. O perigo espreita literalmente a cada curva. Cumprindo a sua missão e liderando a maior parte da regata, o Black Jack 100 executou um plano impecável, regressando a Malta com um tempo total de 65 horas e 44 minutos.
O skipper Tristan Le Brun expressou a sua satisfação “Este resultado traz uma profunda sensação de realização. Gerir estes barcos é um verdadeiro desafio. A nossa equipa treinou muito bem, fomos meticulosos na preparação e cada resultado obtido esta época reflete esse trabalho.”
O proprietário do barco, Remon Vos, também se mostrou radiante por terminar a temporada em alta “Vencer em tempo real na Rolex Middle Sea Race é algo muito especial. É uma regata inspiradora, que nos dá energia e uma nova perspetiva.”
As condições de vento fraco que predominaram este ano significam que o recorde do percurso, estabelecido pelo Comanche em 40 horas, 17 minutos e 50 segundos em 2021, continuará intocado por mais um ano.
Do estreante ao veterano
Graças à sua enorme reputação internacional, a Rolex Middle Sea Race continua a atrair tanto estreantes como velejadores experientes, amadores e profissionais. Um dos exemplos deste ano foi a conceituada velejadora chinesa Lijia Xu, bicampeã olímpica e antiga Rolex World Sailor of the Year, que integrou a tripulação do Kranendonk, o primeiro barco composto inteiramente por velejadores chineses a competir na prova “Adorei a minha primeira Rolex Middle Sea Race e estou muito orgulhosa por termos terminado. A China tem tido sucesso na vela olímpica e agora queremos ser mais ativos noutras provas como esta, a Rolex Fastnet e a Rolex Sydney Hobart. Esperamos que a nossa jornada inspire mais velejadores chineses e asiáticos a juntarem-se no futuro.”
No extremo oposto da experiência está o maltês Christian Ripard, que participou a bordo do Artie III e igualou o recorde de maior número de edições disputadas. Ripard acompanhou a evolução da prova e da vela oceânica ao longo de 35 participações. Quando competiu pela primeira vez, em meados dos anos 1970, uma embarcação de médio porte demorava normalmente seis a sete dias a completar o percurso. Hoje, graças aos avanços na tecnologia e no design dos barcos, a média é de três a quatro dias — o que aumenta a intensidade da experiência.
“Continua a ser uma regata muito tática, e é preciso alguma sorte para estar no sítio certo ao longo do percurso. É como um efeito elástico: por vezes afastas-te dos adversários e, ao virar uma esquina, eles voltam a aproximar-se. Esse é o desafio desta prova — é uma corrida de 600 milhas em que é preciso estar atento em todos os momentos.”
Filho de Paul Ripard, um dos fundadores da regata em 1968, Christian espera regressar no próximo ano e mantém o mesmo entusiasmo de quando competiu pela primeira vez, aos 15 anos “Tenho 64 anos e continuo a adorar isto. Adoro a vela oceânica — a competição, a emoção, o risco. É a minha paixão. Nasci numa família de velejadores e é isto que gostamos de fazer.”
Espírito de equipa e superação
Desde os vencedores dos principais troféus até aos que chegaram ao fim após quase sete dias no mar, a Rolex Middle Sea Race 2025 voltou a demonstrar de forma notável o espírito de trabalho de equipa, tenacidade, inclusão e conquista entre mais de 1.000 velejadores de mais de 50 países.
O comodoro do Royal Malta Yacht Club, Mark Napier, resumiu o espírito da prova na cerimónia de entrega de prémios “Na vela, como na vida, não se trata apenas de vencer — trata-se da jornada, dos desafios superados, das lições aprendidas e das amizades criadas ao longo do caminho.”
A Rolex Middle Sea Race regressa para a sua 47.ª edição no sábado, 17 de outubro de 2026.


