Ambrogio Beccaria ruma à The Ocean Race Europe a bordo do “Allagrande Mapei”

0

Depois de ter anunciado, há alguns meses, a sua entrada na classe IMOCA e a ambição de participar na Vendée Globe 2028, Ambrogio Beccaria atinge um novo marco no seu projeto. No passado dia 24, em Lorient, o skipper italiano revelou a identidade visual do seu barco, agora renomeado como Allagrande Mapei, enquanto se prepara para a sua primeira regata oficial com estas novas cores: The Ocean Race Europe.

© Valentin Lauféron

Este projeto, lançado com o apoio do parceiro principal Mapei, marca o início de uma nova aventura para Ambrogio Beccaria, o primeiro velejador italiano a aspirar aos lugares cimeiros da classe IMOCA. Com um currículo já impressionante – vencedor da Mini Transat, da Transat Jacques Vabre e da The Transat CIC – Ambrogio inicia este novo capítulo com paixão, humildade e determinação.

Para este primeiro grande desafio, a tripulação que competirá na The Ocean Race Europe (com início a 10 de agosto) encarna plenamente o espírito do projeto: determinação, internacionalismo e compromisso. Em conjunto, enfrentarão desafios desportivos e contribuirão também para um estudo científico sobre microplásticos, em colaboração com o Politecnico di Milano.

© Valentin Lauféron

Depois do lançamento oficial em Milão, é tempo de ação
Após o lançamento oficial do projeto em Milão, no dia 2 de abril, é agora tempo de ação! Desde Lorient, o coração da vela oceânica, Ambrogio Beccaria, acompanhado pelo seu parceiro Mapei e pela sua equipa técnica, deu início à temporada de 2025 com a apresentação da nova imagem do IMOCA Allagrande Mapei.

Ver hoje o Allagrande Mapei com as nossas cores é profundamente emocionante”, disse Simona Giorgetta, membro do Conselho de Administração da Mapei. “Marca o início de um novo capítulo de uma história que começou há anos, quando conhecemos o Ambrogio e o seu sonho de velejar em alto-mar. Desde então, sempre acreditámos no seu talento excecional e na sua determinação. Juntos, construímos uma parceria forte, baseada na confiança mútua e em valores partilhados.

Um barco com história e um futuro promissor
Construído pela CDK Technologies, este monocasco de 60 pés – vencedor da Transat Jacques Vabre 2023 e 7.º classificado na última Vendée Globe – é uma embarcação com enorme potencial. Anteriormente conhecido como VULNERABLE, este foiler de nova geração foi desenhado por Antoine Koch e Finot-Conq, tendo sido habilmente comandado por Thomas Ruyant desde o seu lançamento em março de 2023 até meados de julho de 2025. Agora, o Allagrande Mapei inicia um novo capítulo, pronto para somar milhas no mar.

Apesar do tempo limitado e de um contratempo na Course des Caps Boulogne-sur-Mer – Banque Populaire (quando a base do mastro partiu), a equipa TR Racing – que apoia Ambrogio e a sua tripulação – realizou um reparo de urgência.

A quebra da base do mastro foi uma falha inédita na classe IMOCA”, explica Ambrogio.Felizmente, conseguimos salvar o mastro e evitar danos nas velas e nos foils. A TR Racing trouxe o barco de volta a Lorient, forneceu-nos um mastro de substituição e realizou os reparos necessários.

O barco foi então revestido com um design minimalista, mas marcante, focado no essencial: não perder tempo na busca pelo principal objetivo da temporada – o desempenho em alto-mar. Embora a pintura tenha sido rápida, a escolha da embarcação resultou de uma decisão cuidadosamente ponderada – e o Allagrande Mapei está agora à altura das ambições desportivas de Ambrogio e da sua equipa.

Este barco é inovador porque se afasta das formas tradicionais ‘scow’”, explica Ambrogio. “O Antoine Koch optou por uma proa fina, que permite melhor contacto com a água nas fases de skimming – aqueles momentos em que o barco não está totalmente na água nem completamente a voar. Isso resulta num casco com menos potência bruta, mas com muito mais navegabilidade.

O Allagrande Mapei já apresenta um excelente desempenho, especialmente em popa”, continua. “Temos três anos pela frente para o melhorar, testar soluções, validá-las… Não há pressa – vamos avançar passo a passo. A temporada de 2025 será perfeita para conhecermos esta nova máquina, percebermos onde e como melhorar. Tudo será feito de forma metódica e cuidada. Como engenheiro naval de formação, e com experiência no Mini 6.50 e no meu Class40 personalizado, é natural querer deixar a minha marca no barco – mas também sei que isso deve ser feito gradualmente.

Um programa revisto para 2025–2026
O barco acabou de regressar da Course des Caps e já está a caminho de Kiel. Vai ser uma bela volta tripulada com paragens na Alemanha, Portsmouth, Matosinhos/Porto, Cartagena, Nice, Génova, Montenegro… um verdadeiro circuito europeu”, refere o skipper.

Depois disso, a equipa Allagrande Mapei Racing Team terá três semanas e meia para levar o barco de volta ao Canal da Mancha, com uma paragem técnica em Lorient para ajustes finais antes da Transat Café L’Or. Em 2026, o programa continuará com a Vendée Arctique, o Défi Azimut e, claro, a Route du Rhum. As duas primeiras temporadas foram pensadas de forma progressiva: regatas em equipa, depois a dois, e finalmente em solitário. O objetivo é dominar o barco, aprender e experimentar com calma. O grande objetivo final é a Vendée Globe 2028. Mas até lá, a equipa tem tempo para refinar o projeto, aperfeiçoar a máquina e consolidar uma base sólida.

@Pierre Bouras

Continuidade e reforços para The Ocean Race Europe
Para a sua primeira regata como skipper do Allagrande Mapei, Ambrogio rodeia-se de uma equipa experiente e de confiança: Thomas Ruyant, Morgan Lagravière, Manon Peyre e Pierre Bouras (repórter de bordo). É a mesma tripulação que navegou no VULNERABLE durante a Course des Caps.

Essa regata decorreu em excelentes condições e o ambiente a bordo foi ótimo. Cada um encontrou naturalmente o seu papel e reagiu muito bem durante o incidente da base do mastro, por isso, por que mudar? O Thomas tomou boas decisões na nossa primeira saída e, por isso, vamos manter a continuidade”, explica Ambrogio.

Dito isto, a The Ocean Race Europe é um desafio exigente – com duração de mês e meio, etapas intensas e forte concorrência. É por isso que vamos reforçar a equipa com dois talentos adicionais: Abby Ehler, na terceira etapa, e Hugo Feydit, na quinta – para injetar nova energia e manter elevados níveis de desempenho.

Esta abordagem – que combina estabilidade com abertura – reflete perfeitamente o espírito da equipa: séria, coesa e orientada para a performance.

A velejadora britânica Abby Ehler, especialista reconhecida da Ocean Race e técnica altamente qualificada, será uma mais-valia. Com quatro voltas ao mundo no currículo e uma forte defesa da equidade de género na vela oceânica, ela alia performance, liderança e compromisso.

Quanto a Hugo Feydit, técnico da equipa, é especialista em eletrónica de bordo e velejador experiente, com bagagem tanto em regatas oceânicas como costeiras e de match racing.

Ciência a bordo
Enquanto equipa de vela oceânica, a Allagrande Mapei Racing desenvolveu uma forte consciência sobre a fragilidade ambiental dos oceanos. Viver e navegar no mar diariamente torna-os naturalmente testemunhas destes desafios. A sua estratégia ambiental assenta em três pilares: Ciência, Impacto e Consciencialização.

Na The Ocean Race Europe 2025, Ambrogio e a sua tripulação vão lançar o seu primeiro projeto científico sobre microplásticos, em parceria com o Politecnico di Milano, responsável pela análise e interpretação, e com The Ocean Race, que fornece o equipamento de amostragem.

Durante toda a regata (10 de agosto – 15 de setembro de 2025), a água do mar será filtrada a bordo para melhor compreender esta poluição invisível, mas omnipresente. O programa desenvolve-se em três fases:
1. Instalação do equipamento científico a bordo;
2. Recolha de dados durante a regata;
3. Análise laboratorial no outono.

O Allagrande Mapei será o único barco da frota equipado com um Microplastic Sampler fornecido pela The Ocean Race – um dispositivo capaz de recolher partículas plásticas tão pequenas como 0,03 mm até 5 mm. Estas partículas são retidas por filtros especiais, armazenadas em recipientes estéreis e enviadas para laboratório para estudo.

O nosso projeto desportivo é ambicioso, mas deve ser levado a cabo com respeito e responsabilidade,” explica Bianca Bertolini, gestora de projeto e responsável pela sustentabilidade. “As análises vão quantificar as partículas recolhidas, identificar a sua composição química e rastreá-las até aos materiais de origem – têxteis, redes de pesca, etc. A ciência ajuda-nos não só a compreender o estado do oceano, mas também a agir para o proteger. O objetivo final é mapear a distribuição de microplásticos na Europa e relacioná-la com hábitos de consumo, de forma a evitar que o plástico chegue ao mar.

Stefan Raimund, responsável pelo programa científico da The Ocean Race, acrescenta “O oceano está a contar-nos uma história, e através deste projeto estamos a ajudar a descodificá-la. Ao navegar do Báltico ao Mediterrâneo, a The Ocean Race está numa posição única para recolher dados vitais sobre a poluição costeira por plásticos. Este programa não só revela a saúde dos mares europeus, como também une regiões, parceiros e pessoas numa missão partilhada para entender e proteger o nosso oceano.

Partilhe

Acerca do Autor

A redacção da Náutica Press prepara artigos e notícias do seu interesse, mantendo-o ao corrente do que se passa no universo da náutica de recreio e da náutica em geral, em Portugal e no Mundo.

Deixe Resposta