Em Portugal a construção de embarcações, vocacionadas para a Náutica de Recreio e pesca lúdica, é diversificada e com padrões de qualidade. Possuímos um conjunto marcas que fabricam embarcações semi-rígidas e em fibra para diferentes áreas e com mercados bem definidos.
Para este nosso artigo contactámos com os principais fabricantes mas, infelizmente, não obtivemos resposta de todos. Contudo temos uma mostra razoável da indústria e com diferentes realidades. Pedimos também a opinião e análise à Alma Design, um gabinete com experiência internacional e que tem trabalhado também com empresas portuguesas.
As marcas Searib’s e Hydrosport no segmento das embarcações semi-rígidas com uma forte vocação para a exportação. Por exemplo, a Hydrosport forneceu todas as embarcações para Volvo Ocean Race e, a Searib’s possui uma forte componente de modelos de utilização profissional e pelas forças de segurança.
A Obe & Carmen é um construtor muito popular com duas ofertas distintas. A Obe mais para o ramo profissional e a Sirius marcadamente para o recreio. A entrada da nova geração para a direção da empresa criou uma dinâmica diferente e imprimiu um cunho mais moderno aos modelos produzidos.
A Isonáutica é uma marca com uma boa implantação no mercado nacional, principalmente, na ria de Aveiro. Este facto devesse ao profundo conhecimento das necessidades dos utilizadores locais e capacidade de personalizar os seus modelos.
A Sunconcept e a ROM são as duas marcas mais recentes no panorama nacional. São projetos distintos mas ambos cativantes pois apostam na inovação, design e qualidade de fabrico. Estes argumentos permitem-lhes partir à conquista do mercado internacional com confiança.
Alma Design: A indústria nacional de construção de barcos
Nos últimos 23 anos, a Almadesign tem focado a sua atividade no design de produtos e serviços na área dos transportes – incluindo a especificação, conceção, desenvolvimento, prototipagem e promoção – nos sectores rodoviário, aeronáutico, ferroviário e também náutico. Se nos 3 primeiros, concretizamos desde cedo alguns projetos nacionais e internacionais relevantes – com a Salvador Caetano, TAP, CP, Embraer, Airbus, Eviation – no sector naval, apenas nos últimos 3 anos começamos a levar alguns projetos a bom porto. E não por falta de iniciativa, já que desde 1998 participamos em dezenas de iniciativas com diferentes estaleiros e operadores, públicos e privados, de norte a sul e, por motivos a que somos alheios, muitos foram os que morreram na praia…
Não advogando o estatuto de especialistas deste sector, a familiaridade com outras indústrias que têm sabido evoluir mais rapidamente, permite-nos ter uma perspetiva externa para a razão deste insucesso: talvez por ser o sector mais conservador e fechado entre todos os que trabalhamos.
E vários são os fatores que podem contribuir para esta falta de inovação: 1) o desinvestimento crónico na indústria Nacional e Europeia dos últimos 20 anos; 2) a dificuldade cultural em ultrapassar os “500 anos de história”, que inibem a entrada de conhecimentos de outras áreas e a fertilização cruzada, que favorece a inovação; 3) a barreira à entrada de novos players, dinamizada pelos “históricos” interesses instituídos e por fim, 4) algum desinteresse político pela área.
Como fatores negativos, verifica-se ainda a falta de capacidade de investimento; a inexistência de estratégias de longo prazo, o excessivo foco na reparação de baixo preço em detrimento da construção com adição de valor; a dificuldade em criar uma escala nacional com produtos próprios (em vez de pequenas guerrilhas); a dificuldade em criar redes de colaboração entre parceiros desta e doutras indústrias e a dificuldade em criar ações concertadas de promoção do sector.
No entanto, existem outros aspetos, muito positivos, que poderão ser a base da alavancagem do sector: o conhecimento especializado que (ainda) existe, a inegável excelência da engenharia nacional, a mão de obra qualificada de valor competitivo, o domínio de algumas tecnologias chave como os compósitos, a facilidade de acesso à nossa costa (e desta para o resto do mundo) e por fim, a nossa história: se nos soubéssemos promover, vender um barco português no mundo poderia ser tão natural como um automóvel alemão ou um foguetão russo!
Falta à construção naval o mesmo rasgo inovador que tem permitido a outras indústrias crescerem. Para esta mudança é importante um maior alinhamento entre players nacionais, não competindo entre si mas com o resto do mundo e em associação com outros parceiros europeus. Para isso, o papel das Associações, dinamizando ações de eficiência coletiva, networking e promovendo a fertilização cruzada é fundamental. A Fórum Oceano e a AIN poderão fazer aqui o que a AED e a PFP têm feito para o sector aeronáutico e ferroviário.
Nesse sentido, vale a pena olhar para alguns desafios futuros que permitirão inovar no sector, e de que são bons exemplos os projetos em que temos participado: a necessidade de propulsão mais limpa; a resposta às necessidades de transporte marítimo/fluvial local com a indústria nacional; o apoio à aquacultura; os parques eólicos; a integração de processos e materiais de outros sectores; a associação das TIC à navegação autónoma e a criação de produtos de nicho que ofereçam propostas de valor maior e mais diferenciado, em particular na indústria marítimo turística e no transporte de passageiros. Tudo isto, faz-se também com o design!
Felizmente, existe uma nova vaga de empresários e investidores que têm vindo a apostar nestas áreas, com quem temos tido o privilégio de trabalhar. Acreditamos que eles são a génese da nova indústria naval portuguesa.
José Rui Marcelino
11 marcas 11 propostas
Fibramar
Fundada em Peniche em 1978, a Fibramar é um construtor de embarcações vocacionadas para recreio e pesca desportiva.
Em 1990 mudou-se para a Zona Industrial do Vale do Grou, ocupando desde então novas instalações com 2 500 m² de área coberta e aumentando assim a sua capacidade de produção de embarcações.
Para acompanhar esta evolução a Fibramar passou a ser uma marca registada e os seus modelos certificados CE, aumentando ainda mais o seu prestígio.
Com a experiência profissional adquirida ao longo dos anos e de forma a acompanhar a evolução do exigente sector naval, a gama de modelos disponíveis foi sendo aumentada e renovada. Atualmente a Fibramar fabrica 24 modelos de embarcações de pesca desportiva que vão dos 2,60 aos 9 metros empregando apenas mão-de-obra local.
A venda desta produção é assegurada a nível nacional por cerca de 20 agentes que estão em condições de prestar toda a assistência pós-venda, apoiados pela fábrica que se responsabiliza com uma garantia de 2 anos contra qualquer defeito de fabrico.
A Fibramar dispõe também de alguns pontos de venda internacionais, nomeadamente através de distribuidores em Espanha, França, Inglaterra e Suíça.
Hydrosport
A Hydrosport produz embarcações semi-rígidas desde os 4,7 – 12m. Vende para a Europa em geral, nomeadamente, Suécia, Holanda, Bélgica, Inglaterra, França, Croácia, Suíça, Itália, Grécia.
São modelos de barcos com caraterísticas desportivas/de alta performance, fabricados por encomenda mas a preços competitivos. Destinados a clientes profissionais e particulares que procuram algo adaptado ao seu uso.
Quanto aos principais constrangimentos da marca/empresa, Eddy Joahansen (responsável do estaleiro) refere que “…Não querendo deslocalizar a empresa para fora da zona onde estamos, temos dificuldades em arranjar locais maiores e mais modernos”.
Ficha da Empresa
Localização: Alcobela de Baixo, concelho Arruda do Vinhos, 25km a norte de Lisboa
Número de empregados: 9
Produção ano: 35-40 unidades
Isonautica
A Isonautica produz barcos de pesca lúdica e recreio entre os 3 e 7 metros de comprimento (modelos mais vendidos e populares: 480 Open e 550 Master).
Ao nível de mercados cerca de 80% é para o mercado interno (maioritariamente para Aveiro) e o
restante para exportação (CE, maioritariamente para Espanha).
Relativamente aos constrangimentos que sentem, Ana Tavares refere “… que estes passam por alguma concorrência o que origina algum poder negocial por parte dos clientes”.
Ficha da Empresa
Localização: Cacia, Aveiro
Número de empregados: 12
Produção: Em 2019 cerca de 40 barcos.
LevantBoats
A Levantboats, com sede em Castro Marim, projeta e constrói embarcações em fibra personalizadas para diversas atividades profissionais e para o recreio. Os seus modelos têm comprimentos compreendidos entre os 5,60 m e os 8,80 m. Recentemente desenvolveu um modelo catamarã vocacionado para MT, o Cat 26.
Obe & Carmen
O estaleiro Obe & Carmen, Lda conta já com 48 anos de existência. Empresa de caráter familiar, sediada em Águeda, no distrito de Aveiro e onde desenvolve a sua atividade numa área coberta de 2700 m².
O estaleiro é proprietários de duas marcas registadas :
A OBE – Marca mais antiga da empresa vocacionada para embarcações de pesca de recreio ou profissional (pesca local ou marítimo-turística). As suas embarcações são conhecidas pela sua robustez de fabrico e qualidades marinheiras. A personalização dos seus cascos é frequente consoante as necessidades do cliente e para o fim a que se destinam. A sua gama baseia-se em 5 cascos entre os 4,85 m até aos 7,70 m de comprimentos, em versões de casco aberto simples para motor de popa, consola central ou patroneiros.
A SIRIUS é uma marca mais recente (com 16 anos de existência) que nasceu juntamente com a parceria que o estaleiro possui com a Yamaha Motor Europe – Sucursal em Portugal, sendo de sua exclusiva revenda. Aqui, são apresentados também 5 cascos que se multiplicam nas versões Open (para motor de punho), Open CC (consola central), Cabin e Timonier.
As duas marcas complementam o negócio da empresa e conseguem alargar a sua oferta para o mercado de iniciação e seguintes, cada uma focada em nichos de mercado diferentes.
Cerca de 30% da produção destina-se a Espanha e França, sendo os restantes 70% absorvidos em Portugal.
Como constrangimentos principais, Dora Silva (responsável do estaleiro) refere, “… poderemos apontar a fácil entrada neste tipo de negócio permitindo a existência de alguma concorrência “desleal” e a falta de um sistema funcional no que concerne aos registos e de toda a burocracia circundante”.
Ficha da Empresa
Localização: Águeda
Número de empregados: 9
Produção anual: 72 barcos.
Riamar
A Riamar produz embarcações em fibra de vidro, e a sua história começou em 1964. Atualmente está a reformular a sua oferta de embarcações de cariz profissional, bem como de recreio e pesca com o intuito de aumentar, modernizar e melhorar progressivamente os modelos que compõem a oferta disponível no mercado.
Na tradicional base de construção dos cascos Riamar está o poliéster reforçado com fibra de vidro, que conta agora com o reforço estrutural em PVC/Favo de Abelha e estrutura interior em armação de poliéster.
ROM
A ROM Boats produz barcos com edições limitadas, e totalmente personalizadas pelos seus clientes. Neste momento têm em curso a produção de um modelo de 28 pés, o ROM 28, e numa fase de desenho um modelo de 45 pés. Numa perspetiva de mercado, segundo Rita Soares Vieira
Marketing & Communication, “…não temos uma oferta para um mercado específico, mas diria que a ROM Boats, para além do mercado nacional, está igualmente focada no mercado Europeu, por enquanto”.
Em relação à definição de produto e a quem se destina Rita Soares Vieira refere, “Os barcos que produzimos caracterizam-se sobretudo pela exclusividade, pois a escolha de todos os aspetos personalizáveis fica a cargo dos seus clientes. Muito do que produzimos é trabalho artesanal, utilizando na sua maioria matérias primas, materiais e equipamentos de luxo. Neste sentido, em resumo, são barcos para clientes muito especiais, com gostos e preferências igualmente especiais”.
Em relação aos principais constrangimentos da marca/empresa, “…Somos uma empresa fundada há pouco mais de 2 anos, que se pretende posicionar entre os melhores fabricantes mundiais. Dito isto, enfrentamos diariamente os constrangimentos naturais, que encaramos sempre de forma positiva e determinada, bem como todos os desafios de quem está a criar um produto para um segmento tão exigente como o nosso. Por isso, transpomos nos nossos métodos de trabalho e nas equipas, toda essa exigência em tudo o que fazemos, sempre conscientes do longo caminho que temos ainda que percorrer. No entanto, há ainda um património cultural de construção naval Português que está ainda aquém de outrora, e portanto não é fácil construir em Portugal e recuperar essa confiança além fronteiras. Deparamo-nos ainda com todo o contexto administrativo e burocrático que vivemos em Portugal, que ainda se apresenta pouco sofisticado comparativamente a outros países, sobretudo ao nível dos licenciamentos ou financiamentos, por exemplo, justamente porque não conseguimos ainda ter um mercado forte do ponto de vista industrial dentro da náutica de recreio”.
Ficha da Empresa
Localização: Sede em Lisboa |Estaleiro em Aveiro
Nº de empregados: 7
Produção ano: até 4 unidades
SanRemo
A San Remo – Indústria Náutica foi fundada nos anos 80 e tem sede em Aveiro. Dedica-se ao fabrico de barcos de recreio e de pesca, utilizando fabrico exclusivamente manual, conferindo aos seus produtos características próprias e diferenciadas.
Possui 6 gamas de barcos com comprimentos compreendidos entre os 6,35 m e os 9,30 m. Para além do mercado português, a marca está presente na Croácia, Espanha, França, Rússia, Suécia e China.
Searib’s
É um dos fabricantes de embarcações semi-rígidas mais antigos em Portugal que desenvolve a sua atividade nos segmentos do recreio e profissional.
A oferta na área do recreio é composta por três gamas (Open, Lux e Cabin) num total de 19 modelos com comprimentos compreendidos entre os 3,70 m e os 8,60 m.
No segmento profissional temos duas área de negócio, MT e Patrol Rescue. A MT é composta por 7 modelos com comprimentos compreendidos entre os 7,60 m e os 15 m. A gama Patrol Rescue é composta por 8 modelos com comprimentos compreendidos entre os 7,60 m e os 18 m.
A Navalport Yards possui a sua sede em Sobral de Monte Agraço e uma unidade de produção em Viana do Castelo. Ao nível da distribuição, a marca possui agente em Portugal continental e ilhas bem como em Espanha, França e Inglaterra.
Setamar
Com mais de 30 anos de experiência a Setamar tem como principal atividade a construção de barcos semi-rígidos novos com marca própria registada e patenteada. Produz, em São João das Lampas, 6 modelos que podem ser personalizados e com comprimentos compreendidos entre os 4,20 m e os 8,30 m.
Sunconcept
A Sun Concept é uma empresa de construção naval, criada em 2015, sediada em Olhão, no Algarve e que definiu como missão, contribuir, de forma inteligente, para um planeta mais limpo, proporcionando alternativas de navegação ecológicas, eficientes e muito mais económicas. Por isso apostou no desenvolvimento de barcos elétricos / solares.
Manuel Costa Bráz (CEO) define os seus barcos como “…produtos de qualidade, bem construídos, com um design apelativo, naturalmente diferenciadores, sustentáveis e a preços convenientes.
Embarcações que, pelos equilíbrios entre design, hidrodinâmica, versatilidade, capacidade de produção de energia e potencia instalada, são auto suficientes do ponto de vista energético, com reduzidíssimos custos de manutenção, têm uma utilização completamente limpa, sem ruído e que possuem versões para uso particular, turístico e de trabalho”.
Inicialmente começaram por produzir o Sunsailer 7.0, uma embarcação monocasco de 7 metros de comprimento, que pode levar até 12 pessoas e destinada a navegar em águas abrigadas. Existem 20 embarcações vendidas e a operar atualmente em Portugal, do Minho ao Algarve.
Segundo Manuel Costa Bráz, “…Ao fim de 2 anos de trabalho, nasceu o CAT 12.0 como corolário de todo um trabalho de investigação, desenvolvimento e produção que foi levado a cabo na Sun Concept, com a preciosa colaboração da Alma Design como designers. Eficiência tinha de ser conjugada com estética e a aposta foi claramente ganha.
Este barco, na sua versão Lounge (MT), foi apresentado em Vilamoura no dia 15 de Junho de 2019 e representa o que melhor se faz em Portugal. Está a operar na Ilha da Madeira.
Em Fevereiro deste ano entregamos uma outra versão desta embarcação – Cat12.0 Cruise, destinada essencialmente a uso privado e que tem todas as especificações e características tão ao agrado de clientes privados sofisticados.
Demos agora início ao fabrico de uma versão do Cruise, agora em fibra de carbono, por encomenda especifica de um cliente alemão”.
Ficha da Empresa
Localização: Estaleiro em Olhão
Nº de empregados: 22
Produção: catamarans Cat 12.0 / monocascos Sunsailer 7.0
