A Biotherm chegou esta manhã (14.8) a Portsmouth com a pontuação máxima e uma liderança sólida, enquanto a ousada aposta da Malizia junto à costa em Dover garantiu-lhes o segundo lugar.
A primeira etapa da The Ocean Race Europe 2025 terminou hoje, em condições luminosas mas instáveis, ao largo da Ilha de Wight, com a Biotherm a conquistar uma vitória confiante e a Team Malizia a assegurar o segundo posto após uma jogada tática arrojada no Estreito de Dover.
A frota estava preparada para uma chegada direta a Portsmouth, mas na noite de quarta-feira a direção de regata prolongou o percurso em 60 milhas náuticas, adicionando duas voltas extra ao largo de Bembridge Ledge. Isto obrigou as três equipas da frente a mais manobras de contravento e a favor do vento antes de cruzarem a linha de chegada.
Para a Biotherm, a extensão foi praticamente uma formalidade. A equipa de Paul Meilhat controlou a prova desde a largada em Kiel, evitando problemas e mantendo os adversários diretos sempre a uma distância segura. Nem o aguaceiro da noite passada — com rajadas de 25 nós a entrarem de todas as direções, forçando a baixar e voltar a içar velas — abalou a liderança.
“Passámos de cinco nós para 25 nós num instante, e depois o vento começou a rodar em círculos,” explicou Meilhat. “Tivemos de reagir rapidamente para não danificar o barco ou as velas, mas conseguimos.”
Ao chegar a Bembridge esta manhã, a vantagem da Biotherm era tal que puderam cumprir as voltas sem ameaça séria. Com o barco seguinte reduzido a um ponto no horizonte, a tripulação de Meilhat podia ter relaxado até à meta, mas continuou a afinar as velas até ao último instante. Às 09h50 UTC, confirmaram a vitória na Etapa 1, somando 7 pontos pelo triunfo e mais 2 do ponto de passagem em Kiel, fechando com o máximo de 9 pontos.
A verdadeira emoção estava logo atrás, onde a Team Malizia e a Paprec Arkéa disputavam taco-a-taco o segundo lugar. Durante a maior parte da etapa, a Paprec Arkéa manteve a vantagem, defendendo-se das investidas da Malizia. Mas, já ontem à tarde, a tripulação de Boris Herrmann arriscou.
Aproximando-se de Dover, abandonaram a rota pelo meio do canal e encostaram-se à costa inglesa para fugir à corrente contrária mais forte. Era uma jogada de alto risco — junto à costa a corrente é mais fraca, mas o vento pode falhar.
O resultado foi imediato. Na hora seguinte à mudança de rumo, a Malizia recuperou cinco milhas. Ao pôr-do-sol, já estava apenas a meia milha.
“Neste momento estamos a uma milha atrás da Paprec, eles fazem 1,9 nós e nós 8,2,” dizia a co-skipper Cole Brauer a bordo. “É agora que nos tornamos caçadores.”
A Paprec Arkéa respondeu com tática defensiva exemplar, imitando cada manobra da Malizia durante a noite. Durante horas mantiveram-se separados por pouco mais de uma milha, até que, no início das voltas de Bembridge, um único momento fez a diferença.
A Malizia aproveitou uma mudança de vento na marca inferior para gicar; a Paprec Arkéa deixou-os afastar-se, julgando seguro. Mas a manobra favoreceu a equipa alemã, que passou à frente e começou a aumentar lentamente a vantagem.
No final, a Malizia garantiu de forma decisiva o segundo lugar. Para a Paprec Arkéa, aquele deslize custou o posto que tinham protegido desde Kiel, caindo para terceiro.
“Foi uma manhã incrível para nós,” disse Boris Herrmann. “Içámos o balão e percebemos que podíamos ir mais fundo com o spinnaker do que eles com a sua vela, e foi assim que conseguimos ultrapassá-los.”
“Tivemos alguma sorte hoje de manhã, mas ontem estávamos 15-20 milhas atrás e conseguimos recuperar. Não foi só sorte!” acrescentou Will Harris. “É uma frota duríssima, todos puxam sempre, e o facto de termos sido o único barco a ultrapassar outro mostra que temos espírito de luta.”
“Jogámos mal, tanto na tática como na escolha de velas, e eles passaram-nos,” admitiu Yoann Richomme, da Paprec Arkéa. “Foi um erro meu, estava cansado e deixei as coisas andar. Há muita frustração.”
Apesar disso, Richomme mostrou-se orgulhoso: “Fomos segundos durante 99% da etapa. A tripulação esteve em grande forma e o barco navegou sempre rápido. Fizemos inúmeras manobras impecáveis.”
Mais atrás, a vida seguia a ritmo lento. A equipa canadiana Be Water Positive, em quarto, enfrentou nevoeiro cerrado na aproximação a Dover, com visibilidade inferior a 30 metros.
O Canadá terminaria em quarto, três horas após o vencedor. Já a Team Amaala, a cerca de 80 milhas atrás ao início da tarde, lidava com frustração e correntes sem vento.
Sam Goodchild, da Biotherm, destacou a importância da vitória, sobretudo tendo a tripulação pouca experiência conjunta. “É bom começar com o pé direito, mas não podemos embandeirar em arco — há muito caminho pela frente.”
Classificação (provisória):
1. Biotherm — 9 pontos
2. Team Malizia — 6 pontos
3. Paprec Arkéa — 6 pontos
4. Canada Ocean Race — Be Water Positive — 4 pontos
5. Team Amaala — 3 pontos (a confirmar)
6. Allagrande MAPEI Racing — 0 pontos
7. Team Holcim PRB — 0 pontos
A próxima etapa começa no domingo, 17 de agosto: 1.400 milhas náuticas de Portsmouth a Cartagena (Espanha), com paragem de 3 horas em Matosinhos/Portugal.