As feiras e a Náutica – Serão os salões náuticos indispensáveis?

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Os Salões Náuticos parecem estar a perder influência/importância para os agentes económicos e para o público. A afluência de empresas e visitantes diminui nos principais eventos europeus e é interessante saber o porquê deste fenómeno.

Texto e fotografia: Vasco de Melo Gonçalves

Este fenómeno é também verdadeiro em Portugal e, a poucos dias da abertura da Nauticampo – ao longo dos últimos anos temos assistido a um afastamento progressivo de empresas e público deste evento – é urgente refletir sobre este novo cenário.

A meu ver são duas as questões que devemos colocar previamente:
– Será que as pessoas estão interessadas na Náutica de Recreio?
– Se sim, como é que as pessoas se informam e compram e que canais utilizam?

Em relação à primeira questão, ela é muito difícil de responder ou mesmo quase impossível. Em Portugal não temos estudos que nos levem a concluir sobre o que os portugueses pensam sobre a náutica nem temos uma associação empresarial do setor preocupada com o tema. Esta conjugação de situações fazem com que o setor navegue à vista, não tenha peso político/reivindicativo perante governos e organizações. Contudo, é impressionantes os inúmeros colóquios e congressos que se fazem sobre o Mar e o seu potencial de desenvolvimento para Portugal, onde a Náutica é incluída. O resultado prático destas ações tem sido muito fracos ou quase nulo.
A segunda questão é relativamente mais fácil de responder. A Internet é o grande universo de informação onde a grande maioria dos consumidores fazem as suas consultas e alguns, também fazem as suas compras.
A Internet ainda não foi assimilada pela grande maioria dos agentes económicos nacionais como um grande e bom veículo de comunicação/promoção. É uma “montra” aberta ao Mundo que é urgente aproveitar e onde as ações são mensuráveis ao nível do impacto. No que diz respeito a vendas e face à especialidade dos produtos náuticos é um meio que para alguns equipamentos funciona mas para outros nem tanto.
A Internet veio tirar protagonismo aos salões que, ao longo dos anos, funcionaram como grandes palcos das novidades. Hoje em dia, muito antes dos salões, nós já tivemos a oportunidade de ver as imagens e filmes sobre as novidades, quais as suas características técnicas e preços. Os próprios construtores de barcos já fazem as suas apresentações diretas aos clientes finais através test-drives e usando a Internet e a comunicação por mail.
Continuo a não ter uma resposta cabal para a questão Serão os salões náuticos indispensáveis? Mas, uma coisa é certa, a existirem têm de ser pensadas em conjunto entre promotores e agentes económicos. Como já referi há 5 anos atrás, os agentes económicos vivem sem uma feira mas, uma feira não vive sem os agentes económicos!

A posição dos agentes económicos
Colocámos a questão Serão os salões náuticos indispensáveis? a diversos agentes económicos nacionais mas, apenas dois mostraram disponibilidade para aceder a este nosso pedido de reflexão.
Para o Eng. António Inglês, responsável da empresa Nautiradar, “Qualquer feira é importante para essencialmente potenciar os negócios, seja em Portugal seja noutro país qualquer. A feira é uma forma de desenvolver a economia dum determinado setor de mercado e por isso é um desafio para qualquer empresa participar e acreditar sobretudo que é a alavanca para se gerarem novos negócios. As empresas e os empresários certamente tomarão o que julgam ser as melhores decisões para concretizar os seus negócios e tentarão encontrar as alternativas para atingir os objetivos. A feira poderá contribuir para uma parte do sucesso mas há sempre todo um trabalho que tem de ser executado.
Se é de todo indispensável, creio que não e existem vários fatores que não devem ser ignorados. A feira é em si uma forma de negócio para a sua organização e por isso para ser realizada deve levar em conta determinados fatores para justificar o sucesso da sua realização. Nomeadamente os “artistas” que fazem parte do palco das feiras têm uma quota-parte da responsabilidade e importância para garantir esse sucesso. Não particularizando, diria que se não existir uma comunhão de interesses e uma forte interação entre organização e expositores então poderão não estar reunidas as melhores condições e aí sim uma feira pode ser o oposto ou seja dispensável.
Conclusão: Os salões náuticos não serão de todo indispensáveis mas podem e devem ser um gerador de negócio e de promoção ao setor em todas as frentes.”
Para o Grupo Siroco, “Não temos duvidas que os Salões Náuticos continuarão a ser um fator importante que podem induzir o cliente final à compra do barco ou do equipamento, no momento da visita.
É certo que o fator surpresa que ajudava à decisão, é hoje de certa forma inexistente, uma vez que cada vez mais, os estaleiros e os fabricantes de todo o tipo de equipamentos náuticos, têm tendência em apresentar nos seus sites o máximo de informação técnica, fotos e filmes sobre os lançamentos e novos produtos.
É também notório que cada vez mais os clientes se antecipam, visitando os Salões Náuticos do início da época, permitindo assim encomendar o seu barco de forma a recebê-lo antes do Verão. Pensar em encomendar um barco novo em Fevereiro ou Março, poderá significar usufruir do mesmo após a época.
De qualquer forma, reafirmamos a importância dos Salões Náuticos, principalmente quando estes eventos acontecem preferencialmente na água. Temos notado no decorrer dos últimos anos uma afluência maior de público nos salões náuticos montados em Marinas. O fator água é fundamental na nossa opinião, mesmo sem eventuais “Test drives”.
Após 18 anos de participação constante na Nauticampo e após os resultados dos dois últimos eventos com números inexpressivos de público e resultados, o Grupo Siroco, optou por não participar do evento de 2012”.

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A redacção da Náutica Press prepara artigos e notícias do seu interesse, mantendo-o ao corrente do que se passa no universo da náutica de recreio e da náutica em geral, em Portugal e no Mundo.

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