Cristina Rosado Correia – Uma estratégia para um desenvolvimento integrado

0


Na nossa ronda pelos principais agentes económicos ligados à Náutica de Recreio fomos conversar com Cristina Rosado Correia, responsável pela empresa municipal Oeiras Viva que gere o Porto de Recreio de Oeiras. Esta empresa vive exclusivamente das suas receitas não recebendo verbas da autarquia.
Cristina Correia considera o Porto de Oeiras uma infraestrutura complementar às outras existentes na Grande Lisboa e advoga uma colaboração estreita entre elas para se criar dinâmicas de sucesso e ganhadoras. Está convicta que trabalhando em parceria na promoção poderá ter mais eventos na região e com maior dimensão.
Quanto ao Turismo Náutico ele não poderá ser visto de uma forma separada.

Balanço de 2012, perspetivas e análise sobre o setor da Náutica de Recreio foram alguns dos temas abordados por quem gere uma infraestrutura com a relevância do Porto de Recreio de Oeiras.
Cristina Correia avança que “em relação ao ano de 2012, houve uma quebra na receita na ordem dos 0,15% o que não é significativo numa faturação de 1 milhão de Euros. O que é relevante é a diminuição dos nautas passantes nacionais onde se verificou uma diminuição de 26%. Contudo e um pouco inesperado, os passantes estrangeiros cresceram 64%.
Já em 2011 tínhamos assistido a uma diminuição de passantes nacionais mas, em 2012, a situação agravou-se. Ainda referente a passantes nacionais, o número de noites desceu 34% (1000 noites). Nesta época do ano ainda estamos a trabalhar os dados para tentar perceber esta realidade.
Notamos que há uma retração enorme na Náutica. Nós continuamos a ter o Porto de Recreio com muitos barcos mas com pouco movimento e com uma grande dificuldade na cobrança do parqueamento. São sinais da crise e que nos parecem com tendência para agravar”.
Outro fator que não ajuda à consolidação do setor é a aplicação da taxa máxima do IVA à prática de desportos náuticos. “Uma coisa que me preocupa muito foi o agravamento da taxa do IVA que, para o consumidor final, tem grande impacto. Na realidade, a partir do momento em que se começa a taxar estas atividades com taxa do IVA máxima, naturalmente que o setor se retrai. Isto é uma pescadinha de rabo da boca! Mas este problema já se encontra a montante. Nós para termos náutica temos que ter praticantes que tiveram que ter formação. Neste momento estamos a taxar os desportos náuticos com 23% de IVA. Isto é dramático! Com isto não podemos vir dizer que estamos a investir no Turismo Náutico e no Mar.
Investir na Náutica de Recreio não é somente cativar grandes eventos internacionais. Estes, são eventos pontuais e nós não vivemos do pontual, nós vivemos da prática consistente”.

… No desporto náutico não existem grandes incentivos à sua prática…

Uma questão que tem sido levantada ao longo dos últimos anos tem a ver com o número de postos de amarração existentes em Portugal. Para algumas das pessoas ligadas ao setor o fator lugares de amarração parece estar diretamente ligado ao desenvolvimento da Náutica. Quisemos saber a opinião de Cristina Correia sobre este tema, “…As marinas não estão cheias. Existe a ideia, que andámos a alimentar durante anos e anos que é, termos espaço para fazer mais não sei quantas marinas, esta ideia não é correta. Hoje, temos as marinas com taxas de ocupação muito baixas. Nós, no Porto de Recreio de Oeiras, já temos lugares vagos e tal nunca tinha acontecido…Na lista de espera temos notado que algumas pessoas estão a desistir de ter barco! Isto é dramático, nós não vamos conseguir captar novamente o mercado. Como sabe, este mercado não é muito consistente e os nautas estão cada vez mais velhos. Temos que apostar nos mais novos pois, um nauta não se fabrica! Nós não podemos apostar na Economia do Mar e esperar que as coisas aconteçam só porque há uma equação que diz, se tivermos mais lugares de amarração, captamos mais barcos e mais nautas. Isto não funciona assim!
No desporto náutico não existem grandes incentivos à sua prática. Eu gostaria de saber quantos portugueses sabem nadar? Quando não começamos com um contacto fluido com o mar e com a água desde a infância é pouco provável que mais tarde queiramos vir para os desportos náuticos. Volto a referir que os desportos náuticos não podem estar taxados de IVA máximo. Se durante anos nos foi dito que o desporto é essencial para o desenvolvimento físico e intelectual das pessoas como é que vamos agravar com a taxa máxima do IVA?
Não se percebe. Portugal, no geral, investiu muito em infraestruturas mas não investiu nas pessoas.
Contudo existem infraestruturas náuticas que deverão ser criadas. Nós não podemos ter uma costa como temos em que só, pontualmente, temos uma marina em condições. A qualidade deverá ser constante na nossa costa.
Temos que perceber por onde o nauta está a entrar e perceber o que eles querem de uma infraestrutura.

… Se a Náutica é estratégica para Portugal, nós temos que fazer o que foi feito com o Golfe…

Se a Náutica é estratégica para Portugal, nós temos que fazer o que foi feito com o Golfe. Devemos apostar, focalizar as ações. A estratégia terá de ser constante e com uma atitude concertada entre os parceiros da náutica. Neste momento não há uma atitude concertada…”
Mas parece que o próprio setor não se organiza. “Nós vamos ter que fazer o mesmo que o Golfe fez. Temos que apostar neste nicho que tem muito retorno. No Inverno, o norte da Europa quando quer fazer treinos não tem condições por isso, nós poderíamos fazer promoção às nossas excelentes condições climatéricas”.
Quisemos saber a opinião sobre o trabalho desenvolvido pela Associação Portuguesa de Porto de Recreio (APPR). “Eu acho que têm feito um bom trabalho. O problema é que as associações desacompanhadas de um projeto nacional e estratégico, torna-se muito difícil desenvolverem um trabalho efetivo. A Náutica não pode estar desacompanhada e o Turismo não deve ser analisado em compartimentos estanques.
A APPR tem desenvolvido um bom trabalho na representação das marinas e portos nos principais salões náuticos.

… uma marina não vive apenas dos lugares que aluga mas, também dos espaços que a circundam…

O Turismo tem de ser integrado. Repare, uma marina não vive apenas dos lugares que aluga mas, também dos espaços que a circundam. Vive dos hotéis, vive das lojas, vive dos restaurantes…quando a economia se retrai é natural que tudo isto tenha reflexos. Quando numa marina começa a fechar uma loja, um restaurante a infraestrutura sofre pois ninguém quer estar num cenário destes”.
Como é que se vão criar novos públicos e novos utilizadores são questões pertinentes que se colocam ao setor. Para Cristina Correia, “…Durante muitos anos achámos que os desportos náuticos eram uma atividade de elite e ninguém desmontou o princípio. Os desportos náuticos não são desportos de elite! Digamos que um barco é mais caro que uma bola mas, contudo existem muitos locais onde se podem iniciar as atividades sem ter que investir em equipamento. Na escola não temos o incentivo à prática dos desportos náuticos. Há muito trabalho a fazer e as escolas têm um papel fundamental neste processo. Na impossibilidade de captar clientes nacionais temos que ir buscar lá fora. Temos exemplos de sucesso em Portugal em que empresas vão ao estrangeiro promover as boas condições naturais que Portugal oferece para a prática dos desportos náuticos. A Herdade da Cortesia, em Avis, com o remo ou o Nelo na canoagem através de centros de estágio.
Nós, em Oeiras, já tivemos experiências bem-sucedidas. No tempo do Francisco Lobato tivemos diversos velejadores da Classe Figaro a treinar aqui. Na altura fizemos um protocolo com o INATEL para o alojamento. A parceria resultou muito bem.
As nossas condições são muito boas para atrair tripulações. Temos um bom mar, uma localização geográfica, temos uma infraestrutura de apoio ao treino que é o Estado Nacional, temos hospitais. Temos todas as condições para vender Oeiras no mercado estrangeiro e nacional”.

Partilhe

Acerca do Autor

A redacção da Náutica Press prepara artigos e notícias do seu interesse, mantendo-o ao corrente do que se passa no universo da náutica de recreio e da náutica em geral, em Portugal e no Mundo.

Deixe Resposta