Maré Alta :Setúbal, uma região esquecida….

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A empresa Maré Alta é uma referência na área de Setúbal e representa, em Portugal, as marcas de barcos a motor norte-americanas Glastron e Four Winns. A Náutica Press falou com Carlos Raimundo, responsável pela empresa, sobre diversos assuntos entre os quais o sector da náutica e o que é ser agente económico em Setúbal.

Náutica Press (NP) – Como caracteriza a empresa Maré Alta?
Carlos Raimundo (CR) – A Maré Alta é importador da marca norte-americana de barcos a motor Glastron desde 2005. Somos agentes da Touron e, por isso, comercializamos os motores Mercury e Mercruiser, os semi-rígidos Valiant e os barcos de fibra Quicksilver.
Em Fevereiro de 2010 fomos nomeados importadores da Four Winns que é uma marca que nos permite entrar num outro segmento de mercado dos 17 aos 47 pés. Não se trata de uma marca que faz concorrência directa à Glastron mas sim um complemento da oferta. Esta nova representada vem preencher uma aspiração antiga da empresa e, por outro lado, um aproveitar a diferença cambial do Dólar em relação ao Euro.
Para além da importação e distribuição temos os serviços com assistência multi-marca (barcos e motores) como é o caso da Volvo-Penta. Temos também um pavilhão para o parqueamento com a componente de oficina.

NP – Ao nível da facturação quais são as principais áreas de negócio?
CR – Barcos novos, barcos usados e oficina. O parqueamento é residual pois, praticamos valores muito baixos por uma questão estratégica de captação de clientes.

NP – Quantas pessoas estão envolvidas nesta estrutura?
CR – Ao nível do escritório e vendas são 3 e, outras três na oficina e armazém. A nossa facturação anual é de 1 milhão de euros.

NP – A localização em Setúbal foi estratégica?
CR – Não se pode dizer que foi estratégica porque nós somos de Setúbal. Tudo começou porque o meu pai tinha um barco e, na altura, era muito difícil encontrar alguém que se encarregasse de fazer as reparações e as manutenções. Em final de 1992 iniciámos a nossa actividade.

NP – Como tem sido a evolução desta região ao longo dos anos? Penso que é uma das mais privilegiadas de Portugal em relação á componente natural.
CR – É privilegiada a nível natural porque ao nível de infra-estruturas estamos mais ou menos na mesma como estávamos na altura. O contacto com a água é muito difícil…e em Lisboa o problema é semelhante só existindo uma rampa em Belém. Em Setúbal temos apenas uma rampa que sofreu melhoramentos para que alguém a explorasse mas, como está em Carta Militar não a conseguem explorar…É cada vez mais difícil navegar nesta zona. Desde 1999 cada lei que sai tem a finalidade de dificultar a vida aos utilizadores de barcos.
Vou dar um exemplo relevante. Os Estados Unidos têm 295 milhões de habitantes onde, 75 milhões são utilizadores de barcos e, neste país não é preciso ter carta para conduzir o barco, não é necessário registar o barco e não é preciso ter coletes a bordo. O cliente chega a um stand, compra o barco e de seguida pode ir navegar. Nos Estados Unidos não se houve falar de acidentes!
Em Portugal temos os problemas das vistorias a barcos novos. A qualidade das vistorias é muito duvidosa pois, o funcionário que trabalha na capitania recebe por cada vistoria que faz…São as leis que temos!!!

NP – O actual Regulamento da Náutica de Recreio é compatível com a sua actividade empresarial?
CR – É totalmente absurdo que uma pessoa com 18 anos possa conduzir uma moto de água com 260 Cv e que atinge os 150 km/h em cima de água e não poder conduzir um barco equipado com um motor de 135 Cv para andar com a família e que poderá atingir os 35 nós. As cartas são um grande problema…as licenças de pesca, o imposto de selo, em tudo o que tem sido criado não vi uma medida que melhorasse o sector ou que facilitasse a vida ao utilizador.

NP – Em relação ao acesso à água, acha que a região está bem equipada ao nível das infra-estruturas?
CR – Temos um problema com a falta de marinas pois, em Setúbal, não existe oferta. Na Doca das Fontainhas, com cento e poucos lugares, temos mais de 10 anos de espera por um lugar. A administração portuária gastou há dois anos mais de 800 mil euros num estudo para saber se era necessário mais lugares na água em Setúbal! Isto quando tem uma lista de espera com mais de 500 pessoas (seria mais barato por duas pessoas com telemóvel a fazer contactos…). Se houvesse uma marina com 500 lugares estou convicto que seria completamente preenchida.

NP – A Marina de Tróia trouxe alguma vantagem?
CR – Ninguém vai atravessar o rio duas vezes…Vamos ver quem é que utiliza o rio Sado? Cada vez menos gente de Setúbal. Os utilizadores são pessoas oriundas de Lisboa e norte de Lisboa que estão habituadas a vir para a Arrábida (agora já não podem) e Setúbal há muitos anos. Estamos a falar desse mercado pois, Setúbal cidade tem diminuído ao nível dos utilizadores.

NP – Qual a relação com a autarquia e administrações?
CR – A autarquia está de mãos atadas pois não tem dinheiro nem influência na orla marítima. A Administração do Porto de Setúbal e Sesimbra (APSS), através do seu presidente, numa entrevista dada há dois anos disse que o porto de recreio não era obra prioritária. Temos que começar a vender barcos para outras zonas do país porque para além de não haver lugares temos poitas mais caras que lugares de marina em Lisboa…Temos um porto que não defende os nossos interesses!

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A redacção da Náutica Press prepara artigos e notícias do seu interesse, mantendo-o ao corrente do que se passa no universo da náutica de recreio e da náutica em geral, em Portugal e no Mundo.

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