Nautel – 20 anos no mercado português Diversificar para crescer

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A Nautel é uma das mais antigas empresas de electrónica marítima a operar no mercado nacional. Do seu portfólio fazem parte marcas tão importantes como são os casos da Simrad, Humminbird, B&G ou JRC.
O Eng.º. Nelson Lima apontou as razões dos bons resultados em 2009 e traçou um rumo para 2010 que lhe permitirá navegar em águas tranquilas.

Texto e foto: Vasco de Melo Gonçalves

Náutica Press (NP) – Que balanço faz desta época que agora termina?
Nautel (N) – Foi um ano em que sofremos as consequências de toda turbulência que ocorreu não só na economia em geral como um impacto um pouco superior no mercado da náutica. Nós consideramos que houve um impacto maior na náutica, o que é natural visto estarmos a falar de bens extras e dos quais as pessoas se libertam mais rapidamente. Houve um impacto significativo que, em Portugal, talvez não tenha tido a mesma dimensão do que teve em Espanha ou em Itália, porque nós não temos um sector de construção naval significativo. Continuamos a trabalhar no after market e houve uma redução mas não com a dimensão que tiveram os nossos colegas europeus.
Por outro lado estamos convencidos que parte desta redução não é consequência só da crise é, também, fruto do marasmo em que a náutica nacional se encontra devido às dificuldades que as pessoas têm em aparcar barcos e navegarem tranquilamente no mar. Existem um conjunto de limitações exteriores que ajudam a que nós não tenhamos horizontes de progresso mesmo que a economia melhore. Temos a ideia que o sector da náutica irá estar sempre com um determinado tecto mesmo que a economia melhore é, um sector que tem esta especificidade.

NP – A quebra foi muito significativa para a Nautel?
N – É uma obrigação das empresas quando antecipam um determinado cenário tomar medidas correctivas em antecipação. As pessoas que trabalham na Nautel têm competências que lhes permitem, facilmente, passar a outros mercados e abordá-los para que possam compensar o que se perdeu no sector da náutica. De facto, nos últimos 2 a 3 anos, já tínhamos começado a desenvolver outras áreas de negócios (áreas onde a aplicação GPS possa estar como é o caso da Topografia), não puramente náuticas e que vieram trazer valor acrescentado e que ajudou a criar uma “almofada financeira”. Isto permitiu que tivéssemos um ano de 2009 sem sobressaltos.

NP – Façamos agora uma análise marca a marca.
N – Como marca principal ou mais correcto, o Grupo Navico teve uma reestruturação interna muito grande nos últimos três anos. Estas alterações tiveram lugar porque o Grupo, num curto espaço de tempo, adquiriu muitos fabricantes e marcas. Para ter uma ideia da dimensão do Grupo, há um ano atrás ele era proprietário das marcas Simrad, B&G, Navman, Northstar, MX Marine, entre outras. Este grupo nasce de uma aplicação financeira de um fundo de investimento e levou tempo a perceber a cultura e o mercado náutico. O que constatámos foi que em 2009 o grupo começou a perceber melhor, estabilizou e optou por, a partir de agora, trabalhar apenas com três marcas: Simrad, B&G e Lowrance. As restantes marcas vão ser descontinuadas a curto prazo e penso que esta nova posição faz sentido. Do ponto de vista do orçamento interno do grupo, este ganha inúmeras mais valias por não ter de estar a dividir os investimentos na visibilidade das marcas e na investigação e desenvolvimentos de produtos. Conseguiram racionalizar a gama e perceber melhor o que é o mercado. Para 2010 estão previstos novos lançamentos de produtos (em Barcelona e no METS já tivemos a oportunidade de ver alguns) o que reflecte uma melhor organização e uma melhor saúde financeira em comparação com outras empresas concorrentes.
A nossa segunda marca é a Humminbird, a qual pertence ao grupo norte-americano Johnson Outdoors. Esta marca foi uma agradável surpresa pois foi, provavelmente, a marca que melhor resistiu à crise internacional com uma quebra mundial a situar-se nos 10%. Este resultado é entendido como algo de positivo face às quebras sentidas no sector e na náutica. Este grupo é muito saudável do ponto de vista financeiro e a razão pela qual desceu como os outros deve-se à permanente conquista de mercado. Nós, em Portugal, acompanhámos o mesmo nível de quebra.

NP – A que se deve esta boa prestação da Humminbird?
N – Sem dúvida à inovação. A Humminbird é responsável pela concepção de novas funcionalidades e por evoluções tecnológicas que os outros fabricantes, após vários anos, começam agora a implementar nos seus equipamentos. Por exemplo, a Humminbird esteve 3 anos sozinha no mercado com equipamentos equipados com o sonar de varrimento lateral.
Ainda dentro do grupo Johnson Outdoor temos a marca Geonav (empresa com origem em Itália) que, este ano, vai entrar na área dos ecrãs para iates de média e grande dimensão.
Em relação à Magellan (GPS portáteis), esta marca contribuiu para uma perda de negócio para a Nautel visto que a marca praticamente desapareceu do mercado europeu. Não tendo produto nem alternativa foi uma área de negócio em que perdemos, com a excepção nos equipamentos GPS para aplicações especiais (a marca é a mesma mas através de empresas diferentes).
Na marca JRC, a Nautel aumentou significativamente as suas vendas tendo atingido um crescimento de 80%. Não sendo uma marca para a náutica de recreio mas sim para a pesca profissional serviu para a consolidação da empresa.

NP – Qual a percentagem de facturação que a Náutica representa?
N – Cerca de 30% do nosso volume de facturação. Se tivermos a falar no número de unidades vendidas esta percentagem aumenta. Para ter uma noção, a pesca profissional representa 30% da nossa facturação, mais 30% para as actividades terrestres e 10% para a Marinha Mercante.

NP – Falemos agora de salões náuticos. Acha importante a existência deste tipo de mostra?
N – Penso que faz sentido ter um salão náutico em Portugal mas não o Lisbon Boat Show. Como sabe a Nauticampo, na sua última edição, foi altamente contestada por praticamente todos os expositores. Seguiu-se um movimento para tentar aglutinar os expositores contra a organização no sentido de obter melhores condições para a edição de 2010. Criou-se uma comissão, essa comissão fez o seu trabalho e as conclusões acabaram por ser frustrantes uma vez que a FIL contrapôs (hipoteticamente terá surpreendido os negociadores da comissão) que o salão passaria de 9 para 5 dias de duração. Esta situação dividiu os expositores sendo que uns acabaram por aceitar a duração de 5 dias mas, a maioria rejeitou. Nós partilhamos da ideia que, 9 dias seriam o ideal e que com 5 dias o salão será muito fraco (o argumento que a FIL apresentou para o encurtamento da feira é de um verdadeiro provincianismo. Foram lá fora e fizeram uma análise e chegaram à conclusão que as grandes feiras têm 9 dias e que as pequenas têm 5 dias de duração. Lisboa é uma feira secundária e teria que ter 5 dias. Isto é um autêntico desconhecimento do mercado e um desrespeito pelos expositores. Numa altura em que o sector precisa para 2010 de um balão de oxigénio e de algo que anime as hostes, esta atitude não vem ajudar o sector e contribui para que a Náutica não se desenvolva.
Mas, para além disso não percebemos porque se mudou o nome do certame visto a marca Nauticampo ser forte e ser uma boa marca. Neste novo figurino estamos a ponderar não estar presentes e acho que atingimos o ponto mais baixo em toda a história da Náutica. Lamento não ter sido possível uma união entre os expositores…

NP – Partindo do principio que a Nautel não vai estar presente no salão irá fazer alguma acção diferente?
N – Não vou ser taxativo em dizer que a Nautel não vai estar presente mas, se eventualmente não estivermos presentes divulgaremos pelos nossos clientes as razões da nossa ausência. Abordaremos todas as formas alternativas para fazermos as nossas apresentações comerciais para o ano de 2010.

NP – Falemos de mais perspectivas para 2010.
N – As nossas perspectivas são positivas. As marcas que representamos estão a lançar produtos novos de grande qualidade. Por outro lado, nós próprios vamos ter algumas iniciativas como o lançamento de produtos mais populares e de mais baixo custo. Vamos apelar a um sector da náutica de recreio, denominado de nível de entrada e, fornecer-lhes soluções integrais para equipar de forma completa as embarcações (incluindo radar) a um preço significativamente baixo. A composição do pacote será de nossa inteira responsabilidade mesmo tendo o apoio comercial de algumas marcas que representamos.
Estamos cientes que as consequências da crise no sector ainda não terminaram para algumas marcas. Algumas estruturas aguentaram o primeiro impacto mas podem não aguentar os impactos seguintes e, isso poderá criar novas oportunidades de negócio.
Vamos continuar a apostar na diversificação de áreas de negócio e com maior visibilidade e, desenvolver os investimentos feitos em 2009. De salientar que todos estes esforços e investimentos foram feitos sem ter de recorrer a despedimentos ou novos recrutamentos. Foi o nosso ponto de honra.

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A redacção da Náutica Press prepara artigos e notícias do seu interesse, mantendo-o ao corrente do que se passa no universo da náutica de recreio e da náutica em geral, em Portugal e no Mundo.

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