Nautel – 2012 foi positivo mas a Náutica é um ponto de interrogação.

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A Nautel é uma empresa de referência no panorama da eletrónica marítima nacional e uma das mais antigas a operar em Portugal.
O Eng. Nelson Lima é um dos responsáveis da empresa e nosso interlocutor nesta conversa que tem por finalidade acrescentar mais uma visão do mercado e perspetivar 2013.

Náutica Press (NP) – Que balanço faz do ano de 2012?
Nautel (NT) – 2012 foi um dos melhores anos dos últimos 3 a 4 em termos de faturação e resultados. Tivemos a felicidade e a sorte de chegar ao final do ano e pudemos dizer que crescemos, não despedimos ninguém, desenvolvemos as nossas atividades no pais inteiro e movimentámos a economia… Foi uma situação circunstancial que não reflete a dimensão da eletrónica marítima, onde se inclui a pesca, marinha mercante e náutica de recreio.
Este ano tivemos um grande projeto na área da pesca profissional onde a Nautel foi a empresa privilegiada e que nos proporcionou um valor de faturação elevado. O projeto já terminou e esteve concentrado a norte, de Aveiro a Viana do Castelo.
No caso particular da náutica devemos ter feito mais ou menos o mesmo que em anos passados porque não estamos tão expostos ao mercado das novas embarcações (estas são dominadas pelas marcas na origem / estaleiro). Nós trabalhamos mais o mercado do barco a motor, relativamente pequeno e as embarcações especiais.
Temos que referir o crescimento da marca Humminbird em quase 30% no seu volume de negócio. Estes 30% devem-se, em primeiro lugar, ao facto de a Nautel ter abandonado a marca Simrad. Ao termos abandonado esta marca substituímos os produtos por equipamento da marca Humminbird que lançou, em 2012, um radar (não tinha) e sistemas multifunções mais desenvolvidos (também não tinha) em ecrãs de maior dimensão. Com estas novas ferramentas tivemos capacidade de fornecimento aos clientes…
A segunda razão penso que tem a ver com a marca Garmin e com o seu enfraquecimento em Portugal devido à inexistência de uma estrutura local que dê resposta aos problemas dos consumidores. Um utilizador tem um problema com o seu equipamento e precisa de o resolver de um dia para o outro e, no atual panorama dificilmente acontecerá. Facto que não acontece com a Humminbird.
Estas duas situações combinadas terão provocado o crescimento da marca Humminbird em cerca de 30%. Também subimos 10% nos motores Minn Kota que fazem parte do mesmo Grupo da Humminbird, o Johnson Outdoors.
É um balanço positivo mas não deixo de estar preocupado com o ano de 2013 onde não estamos a prever nenhuma situação de exceção que nos permita equilibrar o ano. A náutica continua a ser uma incógnita.

NP – Este ano positivo deveu-se somente ao mercado nacional ou também estão a atuar nos países de língua oficial portuguesa?
NT – Estamos presentes em alguns países mas não na náutica. Por exemplo, Angola é um pouco só para grandes barcos que já vêm equipados com eletrónica. Onde temos influência é na área profissional.
Voltando um pouco atrás e ainda relacionado com o sucesso de 2012 devo referir que a marca Humminbird substituiu parcialmente a marca Simrad pois, esta marca tinha equipamentos que a Humminbird não produz. A marca Simrad era para nós, já um certo “peso” porque o nosso trabalho assentava em dar assistência às embarcações que vinham equipadas e trabalhar no mercado para a marca ficar bem vista em equipamentos que não tínhamos vendido ou tirado qualquer dividendo. Por outro lado, os produtos estavam cada vez mais desalinhados com a nossa realidade. Cada vez que vendíamos um produto Simrad já tínhamos uma série de problemas de desalinhamento com aquilo que o nosso mercado queria. Ao termos ficado sem a Simrad ficámos livres de ir buscar produtos que encaixam na nossa realidade e com estas novas marcas acabámos por vender mais e com mais eficácia em relação às necessidades do consumidor.

NP – Qual é a marca que elege em 2012?
NT – Sem dúvida a Humminbird devido à sua gama de produtos e soluções que será continuada e reforçada em 2013.

NP – Como acha que a náutica se vai desenvolver em 2013?
NT – Com a Europa toda deprimida não é possível ter a expectativa de que alguma coisa vá mudar. Pelo contrário, eu estou em crer que a situação vai piorar!
Que nós vamos aproveitar, de alguma forma, esse piorar vamos! Talvez possamos, finalmente, encontrar eco de algumas coisas que temos vindo a dizer ao longo de vários anos mas, como as pessoas viviam no tempo das “vacas gordas”, não ouviam…

NP – A que se refere em concreto?
NT – Todo o tipo de solução que implique poupança de combustível e de energia são as oportunidades que vão surgir. Pode não haver barcos novos mas, desde que haja situações para alterar nas atuais embarcações pode ser uma oportunidade de negócio.

NP – Qual vai ser a estratégia da Nautel para 2013?
NT – Em primeiro lugar vamos continuar a reforçar o posicionamento da marca Humminbird pois, esta tem uma política de inovação considerável. A marca volta a deixar os concorrentes a 2 a 3 anos de distância com o lançamento do sonar a 360° para embarcações de recreio. Algo de semelhante já aconteceu quando a Humminbird inventou a tecnologia do sonar com varrimento lateral em que foram precisos 3 anos para que outra marca conseguisse fazer o mesmo. E foi apenas uma!
Este novo produto é relativamente caro mas esperamos tirar algum proveito desta situação. Estamos a preparar uma demonstração deste equipamento que será instalado numa embarcação mais vocacionada para a pesca desportiva.
Não vamos reforçar o nosso portfólio de marcas pois estamos satisfeitos com o que temos e não apareceu nada de extraordinário! As nossas marcas apresentaram muitas novidades para o ano de 2013 e, só estes novos lançamentos, vão dar muito que fazer.

NP – Para finalizar vamos abordar o tema das feiras. Qual a sua opinião?
NT – Penso que deveríamos ter uma feira como era a Nauticampo há 15 anos!
Começa a haver cada vez mais confusão com as feiras. Neste momento temos convites para participar em 3 ou 4 feiras náuticas! Apenas uma é pública, a Feira Náutica do Tejo que tem condições para vir a ser uma boa feira mas faltou-lhe público na primeira edição.
Em relação à Nauticampo não sei se vai haver apesar de ser referida no calendário internacional para o mês de Março! É curiosa esta data pois coincide com a de há 15 anos atrás e que nós sempre dissemos que não devia ser alterada. A FIL andou ao sabor dos grandes construtores e, na prática, desvirtuou o conceito de festa da Nauticampo e que não consigo vislumbrar seja possível ressuscitar.
Mas existem ainda pessoas que querem fazer feiras inovadoras com conceitos fora do vulgar.

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A redacção da Náutica Press prepara artigos e notícias do seu interesse, mantendo-o ao corrente do que se passa no universo da náutica de recreio e da náutica em geral, em Portugal e no Mundo.

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