Nautiradar – Consolidação com base na qualidade

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Texto e fotografia: Vasco de Melo Gonçalves

Neste ciclo de conversas com os agentes económicos mais relevantes no sector da Náutica de Recreio nacional, falámos com o Eng. Inglês – fundador e gerente da empresa Nautiradar – sobre a época que passou e o futuro do sector. A Nautiradar representa marcas de referência como a Raymarine, Mastervolt, Steiner, KVH, Icom, Mcmurdo, Dometic Waeco, Ocean Led entre outras e desenvolve a sua actividade na área da electrónica, electricidade e outdoor.

Náutica Press (NP) – Para iniciar a nossa conversa nada melhor do que fazer um pequeno balanço de como foi a época que agora termina.

Nautiradar (N) – O ano ainda não terminou mas não creio que vá haver alterações ao que tem sido a tendência dos últimos meses.
Tendo de fazer um balanço, e numa perspectiva realista, creio que tivemos um ano difícil a todos os níveis. As razões, penso que todos nós sabemos pois duma forma ou de outra, sentimos as diversas dificuldades que o próprio mercado nos ofereceu e que nos obrigou a adaptar e a tentar manter o rumo que traçamos no início deste ano.
Felizmente que a Nautiradar tem-se focalizado em ser uma empresa de soluções onde os clientes podem encontrar o produto que necessitam quer no campo da electrónica ou electricidade marítima, quer no campo das telecomunicações. Nesse sentido, temos vindo a aumentar o nosso portfólio de produtos que agregado à devida formação técnica, nos tem conferido um estatuto de empresa especializada e com capacidade de armazenamento, distribuição e assistência técnica.
Nesse sentido, tem sido possível manter o equilíbrio da empresa.

NP – Façamos então uma abordagem mais marca a marca.
N – Comecemos pela Steiner que apesar de ser um produto que, em teoria, não se encaixa bem no portfólio da Nautiradar tem valido a pena. Estamos conscientes que temos muito trabalho para fazer no sentido de desenvolver a marca. No entanto, estamos muito satisfeitos pois é um produto de grande qualidade e que dá prazer promover e com o qual as pessoas que o adquirem ficam satisfeitas. O nível de satisfação do cliente é muito grande…
A marca Steiner possui quatro segmentos distintos o que permite não estar apenas concentrados no segmento da náutica e abordar outros mercados. Esta abordagem é encarada, por nós, como uma oportunidade para promover também outros produtos e marcas do nosso portfólio.
Outra das marcas que nos deu grande prazer trabalhar visto acreditarmos nas suas potencialidades foi a Ocean Led. A iluminação subaquática pode parecer um “gadget” mas, na realidade é um produto diferente e inovador. Ter luzes à volta de um barco poder ser mais do que apenas embelezar. A utilização na pesca desportiva parece-me pertinente visto que a luz tem a capacidade de atrair a fauna. Por outro lado e, numa componente social, é sempre agradável estar numa marina com o barco iluminado na companhia de amigos a ver o fundo do mar… Uma outra aplicação deste sistema de iluminação é nas embarcações destinadas à Marítima Turística e que nos seus passeios, exploram grutas. É uma marca que eu acredito que se desenvolverá por si apesar de ser um tema recente.

NP – Estas novas marcas obrigaram a um aumento da estrutura da empresa?
N – Claramente que não. Pode parecer um pouco estranho mas, o ano que vivemos, obrigou a fazer um esforço de contenção e de um rigor mais apertado em termos orçamentais. Seria fácil contratar mais alguém para apoiar ao nível das vendas e para estar mais perto dos outros mercados mas, a realidade é que tivemos que aproveitar a actual estrutura sobrecarregando-a, por vezes, com mais trabalho. Este foi um ano de muito trabalho apesar dos resultados não serem directamente proporcionais ao esforço mas tem sido muito gratificante.
Outra marca que de alguma forma tem reforçado a sua aposta na Nautiradar é a Dometic que, recentemente, adquiriu a Waeco com a qual trabalhávamos o mercado nacional na área da náutica.
A Dometic possui uma estrutura empresarial muito superior relativamente à Waeco e com mais produtos. Este aumento de oferta veio possibilitar a comercialização de novos sistemas. Por exemplo, nos ares condicionados vendemos mais de 10 sistemas, o que para um ano zero e com uma rede de agentes restrita é um número muito interessante. Penso que este nosso sucesso resulta da confiança depositada, por parte do consumidor, na nossa empresa que tem tido a capacidade de investimento quer para fazer stock como para a formação técnica.
A Mastervolt tem sido uma marca que, ao longo dos anos, tem vindo a cimentar a sua posição no mercado nacional. É um fabricante com quem dá gosto trabalhar pois é uma marca “Premium” e, como tal, nem sempre consegue ser a mais competitiva ao nível do preço. É uma marca que produz equipamento de qualidade e com um nível técnico muito significativo. Esta situação reflecte-se no dia à dia do mercado em que, por vezes, o consumidor pensa que está a comprar um produto idêntico ao nosso mas na realidade está muito longe disso. Temos consciência de que estamos a trabalhar com produtos caros e que só podemos concorrer com produtos similares reduzindo as nossas margens de comercialização. A Mastervolt é uma marca virada essencialmente para a electricidade marítima apesar de existirem dois sectores em que a marca também está envolvida – móvel terrestre e mercado solar. Nós estamos atentos a esta realidade. Por outro lado e ainda nas competências da Mastervolt temos tudo o que diga respeito a sistemas de reconversão de energia onde a marca é uma referência mundial.
Este ano crescemos na marca Mastervolt nomeadamente no segmento de geradores. Notámos que os proprietários de embarcações preferem que seja a Nautiradar a instalar estes equipamentos. Outro segmento em que crescemos foi o das baterias AGM tanto no mercado tradicional da náutica como em outros mercados terrestres.
Falando agora da nossa principal marca a Raymarine. Esta marca de referência tem sido muito importante para a nossa empresa não só pelo prestígio que a Raymarine trás como pelo nível de facturação que nos proporciona. É uma marca que permite à Nautiradar desenvolver a área da assistência técnica quer a nível nacional como internacional (são muitos os barcos de passagem assistidos pela Nautiradar). À assistência internacional chegamos através de pedidos feitos directamente pela Raymarine ou através de solicitações feitas pelos próprios construtores de barcos que já conhecem a nossa empresa e a nossa forma de trabalhar.
No que diz respeito a vendas vamos fazendo o que nos é possível. Estamos um pouco limitados pois actuamos num mercado que praticamente não tem construtores de barcos e, por isso, a nossa concentração no mercado do retalho. Neste sector estamos a concorrer com todas as marcas que operam em Portugal e que por vezes têm preços muito mais baixos do que a Raymarine. Para ter uma ideia do posicionamento no mercado da nossa marca, a Raymarine tem apostado em produtos da gama média a alta e, isto condiciona a nossa actividade por falta de equipamentos para servir um segmento baixo que é maioritário em Portugal. Os trunfos que temos são os da Raymarine fabricar produtos de grande qualidade, com muitas funcionalidades e de estar na vanguarda da tecnologia. Por exemplo, já foi anunciada a nova Série E Widescreen com a tecnologia HybridTouch™ onde o utilizador pode aceder a todas as funcionalidades através de um display táctil ou através do teclado normal.
No início do próximo ano deverá ser apresentado ao público o novo sistema Auto-routing que é muito idêntico à navegação GPS que encontramos nos automóveis. Podemos seleccionar um destino e o equipamento GPS dá-nos todo o trajecto. Num GPS para automóvel ele terá em linha de conta alguns factores como o tipo de estradas ou se queremos evitar portagens, etc. Neste caso a função é mais arrojada porque do ponto de vista da segurança tem diversas implicações… É certo que haverá uma fase de inicialização ou de programação do próprio equipamento onde teremos de introduzir os dados da nossa embarcação (calado, comprimento, peso, etc.) para que o equipamento possa traçar uma rota em segurança tendo em consideração os fundos, as batimétricas, os canais de navegação… A Raymarine lança este equipamento apto para trabalhar com as cartografias C-MAP e Navionics (até agora, trabalhava apenas com esta marca). A C-MAP está a lançar uma nova cartografia denominada de 4 D e, é nesta que o Auto-Routing vai trabalhar.
Em relação ao equipamento existente já no mercado e apesar de não serem os mais baratos, as pessoas vão-se apercebendo da qualidade dos mesmos e acabam por aceitar a diferença de preços. Nós também temos estimulado o mercado com iniciativas comerciais criando pacotes de produtos – Ray Packs – que são soluções atractivas para pequenas embarcações com incidência em equipamentos básicos como sonda, GPS, VHF e cartografia.

NP – Qual é a importância para a Nautiradar da existência de um salão náutico nacional como é o caso da Nauticampo?
N – A Nauticampo é importante para a actividade da Nautiradar, desde que se consiga mobilizar os diversos agentes económicos do sector a estarem presentes e daí termos uma feira condigna e representativa do mercado náutico português.
O país é pequeno, o mercado não tem crescido, e por isso não poderemos ambicionar ter uma feira com o nível de outros certames europeus, mas os nautas portugueses merecem ter uma exposição com qualidade e diversificada.
É nesta perspectiva que devemos estar presentes e fazer parte do leque de expositores.

NP – Perspectivas para o próximo ano?
N – O que vai ser 2010? Trata-se dum verdadeiro ponto de interrogação. Eu desejo que haja uma recuperação no mercado nacional e que os índices de confiança dos consumidores possam aumentar.
Em termos mundiais perspectiva-se uma evolução positiva nos mercados mas o nosso país anda quase sempre em contra ciclo pelo que se torna difícil perspectivar o que pode ser o ano 2010. Nós vamo-nos manter realistas e continuar a adaptarmo-nos á mudança do mercado e tentar responder da melhor maneira. Os melhores dias decerto aparecerão e quando chegarem nós queremos cá estar!

NP – Apenas no mercado nacional ou existe a possibilidade de internacionalização?
N – É uma boa questão. Nós estamos muito empenhados em manter “o barco” a navegar e, por vezes, falta-nos tempo para pensar nos mercados além fronteiras. A internacionalização implica algum arrojo para além da capacidade de investimento. Este cenário coloca-se quando o mercado nacional já não compensa e é necessário criar alternativas. Trata-se de um tema que está em cima das nossas secretárias mas existem, de momento, algumas limitações físicas e operacionais para desenvolver a nossa actividade no estrangeiro com os nossos actuais padrões de qualidade. Vamos estar atentos e na expectativa.

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