Delmar Conde 1200: Made in Portugal

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Com vinte anos de actividade, o estaleiro de Aveiro com base numa pequena estrutura familiar começou por construir modelos de vela ligeira, mas foi o modelo DC740 que deu o impulso para o mercado dos veleiros de cruzeiro. Este pequeno veleiro, com uma habitalidade e conforto interior fenomenais, já vendeu 40 unidades graças às oportunas alterações que sofreu para se manter actual e que se concretizou também numa derivação de regata com o modelo DC730. Em 1998 lançaram o DC1200 Regata com a obtenção de resultados muito interessantes em competição e, é com base no mesmo casco e mastreação, com o centro vélico e de deriva optimizados, que nasceu o projecto da versão cruzeiro-regata. Num segmento já tomado pelas ofertas dos grandes estaleiros com veleiros de produção em série e custos muito controlados, o Delmar Conde optou por outra via ao propor um veleiro personalizado com base no casco de regata, mas com o plano de convés e disposição interior trabalhados de acordo com a filosofia de utilização que o cliente desejar.


O ano de 2007, depois da dedicação ao projecto do doze metros, será o ano de expansão com apresentação de dois novos modelos. O novo modelo de 31 pés será um cruzeiro-regata com a opção pelo patilhão fixo ou móvel (verticalmente com accionamento hidráulico). O seu interior será bastante confortável e a sua construção igualmente personalizada. O segundo modelo, que esteve exposto durante o certame Nauticampo, é um Vouga, um veleiro (de 6,36 metros) típico da Ria de Aveiro e com cerca de cinquenta anos de história, que vê o seu traço original respeitado até ao mais ínfimo pormenor.

Um dos aliciantes é o facto do potencial cliente poder trabalhar conjuntamente com o estaleiro num interior que se adapte melhor à sua filosofia de utilização, com nítidos ganhos no conforto. Parece uma frase de marketing mas não é. O estaleiro constrói o interior com a disposição que o cliente desejar desde que seja tecnicamente viável.


A versão que experimentámos apresenta uma qualidade de construção muito cuidada, com a utilização de Cerejeira para os armários e Pang-Pang para os paneiros do chão. Relativamente à disposição interior temos dois camarotes à popa simétricos (1,80 m de pé direito) com uma boa luminosidade e ventilação e uma excelente arrumação graças ao espaço totalmente útil debaixo das camas, livre de qualquer espécie de depósitos, a que acresce um armário de boas dimensões. A largura generosa das secções de popa e a ausência de locas montadas nos bancos do poço, permitem montar umas camas amplas (2,10 x 1,30 m) e ter uma boa distância ao tecto sobre os colchões. O salão (1,84 / 1,87 m de PD) é largo mas não muito profundo, porque o cliente optou por avançar a antepara dos camarotes de popa e recuar a de proa. Com isso as escadas ficam limitadas em largura (apenas 37 / 48cm) e como têm uma curvatura pouco pronunciada, não oferecem o melhor apoio. O W.C. (1,82 m de PD), nesta solução de dois camarotes à popa, está montado a estibordo e inevitavelmente rouba algum espaço e


luminosidade ao salão. Até porque, exibe umas dimensões generosas e amplos espaços para arrumação, mas não tem uma zona de duche dedicada. A ventilação e a luminosidade são asseguradas por um albói grande. Do lado oposto, temos a mesa de cartas bastante completa, mas que peca por a posição de trabalho ser apertada. A instalação eléctrica é bastante completa e as cablagens que eventualmente venham a ser precisas já estão pré-instaladas. Na zona central do salão temos a cozinha em posição longitudinal (à americana) a EB, com uma área de trabalho ideal e muito bem equipada. O espaço para arrumações não é motivo para preocupações, mas se for preciso uma despensa improvisada nas férias, pode-se fazer uso do espaço totalmente livre debaixo dos sofás


do salão. Estes, com uma configuração em “U” são amplos e acolhem confortavelmente à mesa (128 x 64cm) até oito pessoas. O banco corrido recolhe para baixo da mesa, aumentando a largura de passagem para a proa (53 / 83cm). Em opção, a mesa poderá transformar-se numa cama de recurso. À proa encontramos um verdadeiro camarote de proprietário com excelentes cotas de habitalidade devido ao recuo da antepara de proa no sentido do salão, mesmo partilhando o espaço com um W.C. privativo de dimensões médias. O volume de arrumação é excepcional, havendo dois armários, mais o espaço livre debaixo da cama. A ventilação e a luminosidade estão num plano mediano porque apenas tem o albói do tecto. É para o W.C. de proa que o mastro despeja eventuais águas que se infiltram, evitando desse modo o aparecimento de humidades no salão.


Aproveitando a boca generosa do casco e optando por um desenho de convés desimpedido, a qualidade de vida a bordo sai a ganhar pela facilidade com que nos deslocamos a bordo, mesmo que isso signifique sacrificar um pouco a habitalidade interior. Por exemplo, a cabina numa solução puramente de cruzeiro teria de ser mais larga, mas ao não fazê-lo, as passagens laterais brindam-nos com uma largura de 65 / 80cm. O plano de convés bem organizado e um poleame com muita qualidade facilitam a vida aos tripulantes. Quando chegamos ao amplo poço podemos constatar a boa ergonomia deste e apreciar a correcta disposição das rodas de leme que oferecem uma posição de navegação muito confortável ao o timoneiro, que tem sempre à mão, em qualquer um dos bordos, a escota da VG a trabalhar nos molinetes da ré. Para controlar a genoa, os molinetes desta já não se encontram ao alcance do braço do timoneiro sem que este large o leme. A calha da VG trabalha no fundo do poço e a afinação expedita do carrinho está à


mão do timoneiro, assim como a afinação do contra estai. Todo o fundo do poço se encontra ao mesmo nível sem qualquer relevo a atrapalhar as movimentações. Só achámos que faltava umas réguas para apoiar os pés, que o estaleiro se prontificou a dizer que ainda faltava montar. É também no fundo do poço que temos a loca, por onde podemos içar o motor e ter acesso prático ao sistema de leme. Numa perspectiva de lazer, o acesso à plataforma de popa é correcto, mas a pequena área desta, não acompanha as últimas tendências nesse capítulo. À proa, a genoa trabalha sobre um arrumador em vez do tradicional enrolador. As vantagens são a simplicidade do sistema que não corre o risco de entalar o cabo ao enrolar/desenrolar e, como o diâmetro do disco é maior, cada volta enrola/desenrola mais vela tornando a manobra mais expedita. Também torna a estrutura mais leve e consegue trabalhar num ponto mais raso ao convés sem a necessidade de esconder o tambor do enrolador abaixo do convés, que é sempre uma solução mais dispendiosa.


A navegar
Filosofia cruzeiro-regata
Pedindo emprestado o casco e o mastro da versão de regata, mantém um carácter performante mas oferecendo mais conforto.
O bom ratio, área vélica / deslocamento, permite um barco vivo que acelera facilmente quando o vento carrega sem se tornar excessivamente nervoso, com ligeira correcção à orça debaixo de refrega que é facilmente controlado pelo leme profundo. O comportamento do DC1200 traduz-se num bolinar inicial, que depois de assentar na abertura generosa do costado (abertura pronunciada em “V” e largura das secções de popa) mantém a posição sem necessidade de por os convidados na borda para estabilizar antes de rizar. Para o bom nível de estabilidade não é alheio o calado de 2,20 m e as secções de popa extremamente largas. São também essas formas que aliadas ao peso controlado, permitem a este veleiro de 40 pés oferecer um excelente rendimento à popa com ventos generosos sem se tornar nervoso. A preocupação de montar os depósitos ao centro do salão, no fundo do casco, é de louvar, porque vai permitir um melhor comportamento em vaga.

As nossas medições
Com um vento que teimava em não nos dar tréguas, com constantes oscilações quer em direcção, quer em intensidade. Lá conseguimos uma brisa mais estável de 8/10 nós de vento real. Nas bolinas (45 / 60º), mesmo com o fundo do casco sujo, andámos entre os 6.5 e 6.7 nós. Com a genoa a trabalhar em frente aos vaus numa calha relativamente interior e, em condições de mar chão, consegue-se fazer umas bolinas com 75/80º entre bordos. Nada mau! Nas mareações mais abertas, sem a possibilidade de usar balão, o odómetro indicou a um través (90º) 6.8 nós; a uma alheta (135º) 6 nós e a uma popa arrasada (180º), com as velas em borboleta, 5.8 nós.


A motor
O Yanmar de Sail-drive com 40cv, com uma hélice de duas pás bico de pato, lida muito bem com as 7.5 t de deslocamento leve deste DC1200, atingindo no regime de cruzeiro, às 2500 rpm uma velocidade de 7,4 nós (consumos: 4.8 L / h – dados do construtor). A velocidade máxima, de 9.3 nós, é atingida às 3000 rpm (consumos: 7.8 lt/h – dados do construtor). A manobrabilidade em doca é uma brincadeira, enquanto a visibilidade goza da excelente posição das duas rodas de leme. A insonorização está em bom plano.

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