Inteligência Artificial ainda não é suficientemente inteligente para diagnosticar problemas de motores – por enquanto!

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A Condition Monitoring Technologies (CMT) alertou para os riscos de depender exclusivamente da inteligência artificial na monitorização do estado dos navios, sublinhando que a experiência humana continua a ser essencial para garantir a segurança e precisão nas operações marítimas.

À medida que a indústria naval adota rapidamente sistemas baseados em IA para testes e diagnósticos de maquinaria, a CMT reconhece o potencial crescente destas tecnologias para processar grandes quantidades de dados e auxiliar nas tarefas de monitorização. No entanto, a empresa insiste que os engenheiros humanos devem continuar “envolvidos no processo” para validar, interpretar e agir com base nos dados técnicos, especialmente em navios cada vez mais complexos e automatizados.

Otimização do desempenho dos motores continua a exigir envolvimento humano, afirma o Diretor-Geral da CMT, David Fuhlbrügge

A IA tem certamente um papel a desempenhar – sobretudo na análise de grandes conjuntos de dados gerados durante as operações,” afirmou David Fuhlbrügge, Diretor-Geral da CMT. “Mas há limitações críticas em confiar apenas na tecnologia. Um sensor pode indicar uma leitura de pressão ou um valor de temperatura. Mas não consegue cheirar óleo queimado, sentir vibrações excessivas ou reconhecer um som estranho na casa das máquinas. É aí que entram a intuição, a experiência e o julgamento humano.

Atualmente, a empresa não integra inteligência artificial nos seus dispositivos de monitorização, confiando antes em algoritmos sofisticados para fornecer interpretações fiáveis dos dados.
A empresa prevê que, no futuro, IA e sensores possam ser usados para sinalizar problemas remotamente. Contudo, será sempre necessária uma avaliação humana especializada, muitas vezes realizada por engenheiros em terra, em contacto com as tripulações a bordo ou em visita. A CMT antecipa um modelo híbrido, com monitorização contínua durante as viagens e equipas móveis de manutenção destacadas para intervir nos portos.
Em última análise, prevemos um modelo semelhante aos atuais serviços dos fabricantes de motores,” acrescentou Fuhlbrügge. “Os sensores poderão identificar uma falha a meio da viagem, e uma equipa de reparação será enviada para se encontrar com o navio no porto seguinte. Mas sem alguém qualificado para interpretar corretamente essas leituras, existe um sério risco de falsos alarmes ou de falhas não detetadas.

A preocupação aumenta com o peso técnico e financeiro de instalar sensores fiáveis em todas as áreas do navio – especialmente quando esses próprios sistemas podem tornar-se pontos de falha. A IA continua incapaz de reproduzir o “instinto” que os engenheiros desenvolvem ao longo de anos de experiência, uma qualidade crucial para diagnosticar problemas mecânicos complexos.

O engenheiro de bordo é, na prática, um detetor multissensorial,” referiu ainda Fuhlbrügge. “Repara em cheiros, vibrações, pequenas alterações de comportamento – coisas que nenhum sistema de IA ou conjunto de sensores consegue detetar de forma fiável. Esse tipo de visão holística continua a ser exclusivamente humana e insubstituível.

A CMT reforça que, em vez de substituir os engenheiros, a IA deve ser usada para aumentar as suas capacidades, melhorando a segurança e eficiência marítima através da colaboração entre pessoas e máquinas.
Engenheiros experientes veem a IA como uma extensão útil da sua própria perceção. Já os profissionais mais jovens, por outro lado, tendem a estar mais entusiasmados com a ideia de automatizar totalmente a tomada de decisões, mesmo ao ponto de excluir a intervenção humana. Isto é tanto uma mudança cultural como tecnológica,” explicou Fuhlbrügge.
Embora reconheça o potencial a longo prazo do machine learning para replicar aspetos mais sofisticados do raciocínio humano, a CMT alerta para os obstáculos significativos que ainda persistem. Entre eles, destaca-se a necessidade de conjuntos de dados massivos, diversos e altamente contextualizados para treinar eficazmente estes sistemas, bem como os enormes requisitos energéticos para alimentar redes neurais avançadas – desafios que ainda não foram ultrapassados.
Entretanto, a empresa apela a uma abordagem equilibrada e pragmática por parte dos intervenientes da indústria.
Não nos deixemos cegar pela promessa do navio totalmente autónomo. Os engenheiros humanos não são uma relíquia do passado. São a melhor garantia que temos de um futuro seguro e fiável no mar.

A CMT é uma empresa líder no desenvolvimento de sistemas de diagnóstico para desempenho de motores e monitorização da qualidade de combustível, com mais de duas décadas de experiência a apoiar operadores de navios e fabricantes de motores em todo o mundo. As suas soluções fornecem análises em tempo real de metais de desgaste, parâmetros de combustão e contaminação de combustível – indicadores críticos do estado da maquinaria. Os seus sistemas portáteis e embarcados são amplamente utilizados para evitar falhas, otimizar a manutenção e melhorar a eficiência dos navios.

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