UNESCO apela a investimento na investigação oceanográfica

0

Na véspera da terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (UNOC3), que terá lugar em Nice a partir de 9 de junho, a UNESCO apela a um envolvimento científico sem precedentes com o oceano e apresenta novas iniciativas centradas na cartografia do fundo marinho e na criação de uma rede global de observação oceânica.

Até hoje, sabemos menos sobre o fundo do oceano do que sobre a superfície da Lua. Aprender com o oceano é a maior aventura científica do nosso tempo. Para que tal seja possível, a comunidade internacional não pode continuar a ignorar os alertas dos cientistas e deve investir massivamente na investigação oceanográfica – que atualmente representa menos de 2% dos orçamentos nacionais de investigação”, declarou Audrey Azoulay, Diretora-Geral da UNESCO.

Durante a sua presença em Nice, em representação da UNESCO – a agência das Nações Unidas responsável pela ciência dos oceanos – Audrey Azoulay apelará a um maior compromisso dos Estados para apoiar a investigação oceanográfica global e os cientistas que a conduzem. Os compromissos assumidos nesta conferência contribuirão para os objetivos da Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica, liderada pela UNESCO, que desde 2021 já lançou mais de 700 projetos e angariou 1,5 mil milhões de dólares em financiamento.

Reforçar a cartografia do fundo do mar
A cartografia do fundo marinho e da sua biodiversidade é a base de todo o conhecimento marinho. É essencial para compreender os efeitos das alterações climáticas, proteger os ecossistemas, prever catástrofes e orientar a gestão dos espaços marinhos. Liderada pela UNESCO e pela Organização Hidrográfica Internacional, com o apoio da Fundação Nippon, a cartografia de alta resolução do fundo do mar já cobre 26,1% dos oceanos mundiais – face a menos de 6% em 2017.
Apesar deste progresso, cerca de 25% dos dados ainda estão nas mãos de entidades públicas ou privadas. Tornar estes dados publicamente acessíveis através da plataforma de cartografia de acesso livre da UNESCO representaria um grande avanço para a investigação oceanográfica global. Em Nice, vários países – incluindo Canadá, Alemanha, Mónaco, Noruega e Portugal – bem como organizações internacionais e do setor privado, anunciarão novos compromissos com a UNESCO para partilhar publicamente os seus dados.

Criar a maior rede mundial de observação oceânica em tempo real
Compreender o oceano exige também uma observação contínua. Para recolher estes dados, a UNESCO está a equipar navios com instrumentos científicos de medição que transmitem dados em tempo real para o Sistema Global de Observação dos Oceanos (GOOS), coordenado pela Organização. Mais de 2.000 embarcações já estão equipadas – incluindo as da competição de vela Vendée Globe e frotas comerciais.

Em Nice, a UNESCO anunciará o objetivo de envolver 10.000 navios comerciais até 2035, apelando aos seus Estados-Membros e aos líderes da indústria naval para aderirem a esta inédita rede global de observação oceânica. Os navios serão equipados com instrumentos meteorológicos e oceanográficos que transmitem dados em tempo real, ajudando a avaliar melhor os efeitos das alterações climáticas, a antecipar fenómenos meteorológicos extremos e a melhorar a segurança marítima.

Aproveitar a ciência cidadã para mapear espécies marinhas
Desde 2021, a UNESCO desenvolveu um método padronizado de amostragem de ADN ambiental (eDNA) para identificar milhares de espécies marinhas de forma rápida e económica. Após uma fase-piloto em 21 sítios marinhos do Património Mundial da UNESCO – durante a qual foram identificadas cerca de 4.500 espécies a partir de 500 amostras – o programa visa agora recolher 2.500 amostras em 25 locais marinhos designados pela UNESCO, cinco vezes mais do que na fase-piloto.
Estas expedições de ciência cidadã decorrem em áreas naturais icónicas, classificadas como Património Mundial ou designadas como Reservas da Biosfera. Mobilizam especialistas da UNESCO, cientistas e voluntários – incluindo estudantes, professores e escolas associadas – com o objetivo de compreender e proteger melhor os ecossistemas raros e frágeis.

Partilhe

Acerca do Autor

A redacção da Náutica Press prepara artigos e notícias do seu interesse, mantendo-o ao corrente do que se passa no universo da náutica de recreio e da náutica em geral, em Portugal e no Mundo.

Deixe Resposta